Hoje era o último dia para o pagamento do imposto municipal de selo segundo o novo modelo «simplex». Fui cumprir a minha obrigação fiscal e pus-me na fila logo antes das 9 da manhã. As finanças no. 11 de Lisboa fecharam os aposentos para obras e abriram um barracão de contentores! As obras podiam ter começado a partir de amanhã, deixando passar o prazo do pagamento deste imposto. Mas não!
Logo na primeira meia-hora caiu o sistema informático! Sinais de um país pre-moderno que quer imitar Finlândia!
Quando voltou-se a ligar à rede informática, já eu via passar pela minha frente deficientes, grávidas e senhoras com crianças. O sistema simplex ainda não tem maneiras de identificar se são filhos, sobrinhos, netos ou emprestados para a ocasião. Fiquei com dúvidas quando ouvi uma das mulheres a dizer que voltaria com uma sobrinha!
Porque não pode o governo reservar alguns dias somente para atender os deficientes, as grávidas e senhoras com crianças? Assim ficariam todos os clientes servidos no último dia sem serem ultrapassados.
Para o cúmulo da minha irritação repetia uma senhora que atendia ao balcão que era preciso pagar até hoje, mas o selo que seguiria por correio podia ser colocado até Outubro! É assim que a Câmara de Lisboa pretende ganhar mais nos juros de 3 meses de pagamentos adiantados para fazer face às dívidas que contraiu com a sua administração abusiva?
Longe estamos de um país moderno nesta UE que pretende dar lições aos países do 3º mundo! Portugal vive de Saudades, deste tipo e outras piores!
31 julho, 2007
11 janeiro, 2007
O inefável Bento XVI
Depois de ter afirmado - quiçá baseado em aprofundada experiência em ambos os temas - que o aborto é igual ao terrorismo, eis que Bento XVI volta ser notícia ao mostrar-se incomodado com o facto de as pessoas festejarem efusivamente a passagem do ano, por considerar que ao fazê-lo estão a optar pela ilusão e a afastar-se da realidade.
Bom, alguém deveria explicar-lhe que a ideia é mesmo essa.
Decerto que a passagem de um ano para outro é apenas o resultado de convenções adaptadas a partir dos movimentos de rotação e translação do planeta Terra em torno do Sol. Decerto que mesmo o ciclo das estações do ano tem maior interesse prático para a agricultura, para a pecuária ou para a jardinagem do que para o citadino que participa entusiásticamente nos festejos de fim de ano. Decerto que estamos a falar fundamentalmente de outro período de 365 dias, com 24 horas de duração cada um, portanto nada de verdadeiramente extraordinário.
Porém, a verdade é que, como referem as Escrituras, nem só de pão vive o homem. Vive também de esperança.
Quando finda um ano, um banalíssimo período de 365 dias, as pessoas sentem chegar o final de um ciclo. E encaram o novo cômputo de 365 dias com a esperança de que as coisas corram melhor do que no anterior. É algo tão intrínseco para o ser humano como dormir.
Isto porque a alternativa é demasiado cruel para ser sequer contemplada. A alternativa seria nada mudar, tudo ser igual, a infelicidade manter-se ou piorar. Daí que as pessoas prefiram encarar o novo ano com a esperança de melhorias na sua vida, simbolizando isso com a alegria esfuziante com que aderem aos rituais de passagem de ano. E, ainda que não festejem na rua, têm sempre, no mínimo, uma certa dose de prudente optimismo para encarar o dia 2 de Janeiro.
Bom, alguém deveria explicar-lhe que a ideia é mesmo essa.
Decerto que a passagem de um ano para outro é apenas o resultado de convenções adaptadas a partir dos movimentos de rotação e translação do planeta Terra em torno do Sol. Decerto que mesmo o ciclo das estações do ano tem maior interesse prático para a agricultura, para a pecuária ou para a jardinagem do que para o citadino que participa entusiásticamente nos festejos de fim de ano. Decerto que estamos a falar fundamentalmente de outro período de 365 dias, com 24 horas de duração cada um, portanto nada de verdadeiramente extraordinário.
Porém, a verdade é que, como referem as Escrituras, nem só de pão vive o homem. Vive também de esperança.
Quando finda um ano, um banalíssimo período de 365 dias, as pessoas sentem chegar o final de um ciclo. E encaram o novo cômputo de 365 dias com a esperança de que as coisas corram melhor do que no anterior. É algo tão intrínseco para o ser humano como dormir.
Isto porque a alternativa é demasiado cruel para ser sequer contemplada. A alternativa seria nada mudar, tudo ser igual, a infelicidade manter-se ou piorar. Daí que as pessoas prefiram encarar o novo ano com a esperança de melhorias na sua vida, simbolizando isso com a alegria esfuziante com que aderem aos rituais de passagem de ano. E, ainda que não festejem na rua, têm sempre, no mínimo, uma certa dose de prudente optimismo para encarar o dia 2 de Janeiro.
10 janeiro, 2007
Aconteceu no Iraque!
Saddam Hussein foi executado.
Estranho não ler aqui neste espaço as habituais vozes indignadas. Ter-lhes-á passado despercebido? Seria uma soberana oportunidade de bater em Bush, em Israel e no Ocidente.
A verdade é que os altos representantes iraquianos não perderam tempo em vingar-se do tirano que os atormentou durante várias décadas. Com o beneplácito dos americanos, é certo, mas também e fundamentalmente por iniciativa própria, Saddam tinha as mãos bem encharcadas com o sangue das milhares de pessoas que mandou matar em limpezas étnicas, na guerra contra o Irão e na invasão do Kuwait ou por acção da sua polícia secreta. Os números falam por si: 600 mil mortos nas agressões ao Irão e ao Kuwait; 5000 mortos num só dia e 12 mil em três dias nos ataques com armas químicas no Irão e no Curdistão em 1988; entre 1983 e 1988, como resultado de 300 raides químicos, 5000 pessoas morreram e cerca de 100 mil continuam a sofrer as consequências; execução de milhares de prisioneiros de guerra iranianos; limpezas étnicas de curdos, xiitas e outros árabes, com mais de 160 mil mortos; eliminação física e tortura de adversários políticos, reais ou imaginários.
Já para não falar do nepotismo! A afirmação de alguns apoiantes de Saddam de que este partilhava as riquezas do Iraque com a nação árabe, só pode ser considerada anedota. Pois se a própria população iraquiana vivia (e ainda vive) na maior miséria, enquanto que o ditador tinha as torneiras dos WC's dos seus muitos palácios forradas a ouro!
Este era Saddam Hussein!
Dito isto, reafirmo que a invasão do Iraque foi um tremendo erro estratégico por parte dos EUA, do qual dificilmente conseguirão safar-se. Isto porque não podem simplesmente retirar as tropas e vir-se embora. Têm que deixar o país pacificado e com um governo viável, o que significa que têm que derrotar a guerrilha e impedir que a guerra civil de baixa intensidade que actualmente se verifica se transforme numa guerra generalizada entre xiitas e sunitas. Em causa não está apenas a credibilidade dos americanos - que sendo naturalmente um problema menor no cenário iraquiano é ainda assim um problema a ter em conta em termos globais - que ficaria seriamente abalada com a vitória dos radicais, mas também a estabilidade na região e, por acréscimo, no mundo, pois se a Al-Qaeda consegue ganhar o braço-de-ferro com Bush através da guerrilha iraquiana ganhará também estatuto junto dos jovens das comunidades muçulmanas ocidentais, facilmente recrutáveis, e um outro fôlego para poder enfim atingir o seu ojectivo máximo que é fazer retornar o Ocidente a uma pré Idade Média.
No meio disto tudo, saliente-se a coragem de um povo que, mau grado os atentados que o pretendem desmoralizar, escolheu manter-se firme perante a adversidade votando massivamente nas primeiras eleições livres e aguentando estoicamente todo o mal que alguns dos seus conterrâneos (bem como outros alucinados que julgam prestar um grande serviço a Allah matando indiscriminadamente) insistem em infligir-lhes. A coragem dos condutores de ambulâncias, por exemplo, que indiferentes à sua própria integridade, avançam para o local em que ocorreu mais um atentado para recolher os feridos e os cadáveres. Muitas vezes são apanhados no fogo cruzado; outras são assaltados e as ambulâncias roubadas para serem armadilhadas e lançadas para o meio da população; outras ainda sofrem directamente as explosões dos morteiros que os radicais perversamente lançam em segunda vaga para apanhar e estropiar os que se reuniram para socorrer as vítimas da primeira vaga.
Como dizia uma das vítimas dessas explosões, ainda sob o efeito do choque, custa a crer que muçulmanos façam isto a outros muçulmanos, mas é assim que agem os fanáticos.
Estranho não ler aqui neste espaço as habituais vozes indignadas. Ter-lhes-á passado despercebido? Seria uma soberana oportunidade de bater em Bush, em Israel e no Ocidente.
A verdade é que os altos representantes iraquianos não perderam tempo em vingar-se do tirano que os atormentou durante várias décadas. Com o beneplácito dos americanos, é certo, mas também e fundamentalmente por iniciativa própria, Saddam tinha as mãos bem encharcadas com o sangue das milhares de pessoas que mandou matar em limpezas étnicas, na guerra contra o Irão e na invasão do Kuwait ou por acção da sua polícia secreta. Os números falam por si: 600 mil mortos nas agressões ao Irão e ao Kuwait; 5000 mortos num só dia e 12 mil em três dias nos ataques com armas químicas no Irão e no Curdistão em 1988; entre 1983 e 1988, como resultado de 300 raides químicos, 5000 pessoas morreram e cerca de 100 mil continuam a sofrer as consequências; execução de milhares de prisioneiros de guerra iranianos; limpezas étnicas de curdos, xiitas e outros árabes, com mais de 160 mil mortos; eliminação física e tortura de adversários políticos, reais ou imaginários.
Já para não falar do nepotismo! A afirmação de alguns apoiantes de Saddam de que este partilhava as riquezas do Iraque com a nação árabe, só pode ser considerada anedota. Pois se a própria população iraquiana vivia (e ainda vive) na maior miséria, enquanto que o ditador tinha as torneiras dos WC's dos seus muitos palácios forradas a ouro!
Este era Saddam Hussein!
Dito isto, reafirmo que a invasão do Iraque foi um tremendo erro estratégico por parte dos EUA, do qual dificilmente conseguirão safar-se. Isto porque não podem simplesmente retirar as tropas e vir-se embora. Têm que deixar o país pacificado e com um governo viável, o que significa que têm que derrotar a guerrilha e impedir que a guerra civil de baixa intensidade que actualmente se verifica se transforme numa guerra generalizada entre xiitas e sunitas. Em causa não está apenas a credibilidade dos americanos - que sendo naturalmente um problema menor no cenário iraquiano é ainda assim um problema a ter em conta em termos globais - que ficaria seriamente abalada com a vitória dos radicais, mas também a estabilidade na região e, por acréscimo, no mundo, pois se a Al-Qaeda consegue ganhar o braço-de-ferro com Bush através da guerrilha iraquiana ganhará também estatuto junto dos jovens das comunidades muçulmanas ocidentais, facilmente recrutáveis, e um outro fôlego para poder enfim atingir o seu ojectivo máximo que é fazer retornar o Ocidente a uma pré Idade Média.
No meio disto tudo, saliente-se a coragem de um povo que, mau grado os atentados que o pretendem desmoralizar, escolheu manter-se firme perante a adversidade votando massivamente nas primeiras eleições livres e aguentando estoicamente todo o mal que alguns dos seus conterrâneos (bem como outros alucinados que julgam prestar um grande serviço a Allah matando indiscriminadamente) insistem em infligir-lhes. A coragem dos condutores de ambulâncias, por exemplo, que indiferentes à sua própria integridade, avançam para o local em que ocorreu mais um atentado para recolher os feridos e os cadáveres. Muitas vezes são apanhados no fogo cruzado; outras são assaltados e as ambulâncias roubadas para serem armadilhadas e lançadas para o meio da população; outras ainda sofrem directamente as explosões dos morteiros que os radicais perversamente lançam em segunda vaga para apanhar e estropiar os que se reuniram para socorrer as vítimas da primeira vaga.
Como dizia uma das vítimas dessas explosões, ainda sob o efeito do choque, custa a crer que muçulmanos façam isto a outros muçulmanos, mas é assim que agem os fanáticos.
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