31 outubro, 2008

OUFKIR

Nota prévia, de partilha pessoal com o leitor, para que este sinta uma maior intimidade com quem escreve:

Hoje parecia uma gaja, aos olhos de quem olhava para mim, no trânsito. Dentro do meu carro arranjava as unhas com o meu multifuncional canivete suiço comprado no Brasil, sem me aperceber do acto menos másculo. Quando vi um homem, dentro do seu veículo, num semáforo, a olhar insistentemente para as minhas mãos, e para os meus gestos abichanados, apercebi-me da figura que estava a fazer. Claro que não me importei com ela, a figura, mas depois, quando percebi que a música que dava na rádio era da Luso-canadiana Nelly Furtado , senti-me um pouco agayolado e apressei a manicure que há em mim e o indicador direito lá ficou menos bem limado.

Fim da partilha com o leitor.



Vamos agora à história:

Oufkir: este nome não me sai da cabeça há uns 4 dias. A primeira vez que ouvi falar deste nome foi em 2001. A filha de um oficial da Royal Marrocain Air Force (RMAF), na reserva, foi a primeira a contar-me que tinha havido um atentado a Hassan II, era ela pequena, e que o principal responsável pelo sucedido havia sido exemplarmente punido. Era o General Oufkir. O edifício de uns 5 andares, que havia suscitado a minha curiosidade inicial, situado na zona da praia, Casablanca, e não muito longe da 2ª maior mesquita do mundo, tinha (e ainda terá) um aspecto inacabado, velho, e contrastava com as bonitas vivendas situadas naquele bocado priveligiado de Casablanca. O bâtiment, como lhe chamou a filha do oficial da RMAF, havia sido da família de Oufkir, outrora poderosa e próxima à família real, mas que caíra em desgraça. Depois do atentado, Hassan II, depois de "tratar" do traidor principal, o general Oufkir, promoveu perseguição impiedosa aos restantes membros da família. O prédio, então em construção, ficou ali como um aviso aos que possam eventualmente pensar em atentar contra o rei.
A mensagem é forte, sem dúvida. Quando a filha do oficial me contou aquilo preparava-me para lhe colocar mais questões sobre o assunto, mas a Gendermerie Royal aproximava-se. Nos tempos de Hassan II, a Gendermerier Royal não se coibia em procurar receber um dinheiro extra, sobretudo dos incautos motoristas. Eu e a filha do oficial éramos fortes candidatos a esses pagamentos, porque estávamos dentro dum carro, ás 6 da manhã. Mas, sobretudo, porque éramos um homem e uma mulher dentro dum carro de matrícula estrangeira. Homem e mulher juntos só se forem casados ou então da família, senão estão em falta com a lei.
A partida à pressa fez-me esquecer Oufkir por momentos, mas, chegado a Lisboa, procurei informações e descobri um livro de Malika Oufkir, onde conta tudo o que podemos querer saber sobre o que aconteceu em 1972 e nos anos posteriores, de perseguições e o terror vivido pela família Oufkir.
Em resumo, a história: Malika e irmãos tinham uma vida de príncipes, vivendo no Palácio Real, convivendo diariamente, brincando com os filhos do Rei (entre os quais o actual Rei, Mohamed VI). O pai, o General Oufkir, era o braço direito de Hassan II. Em 1972, por motivos que não cabe aqui referir, tudo muda, por causa do atentado: o General suicida-se (segundo algumas versões), e Hassan II faz prisioneira a família do traidor, confisca todos os seus bens, encarcera-a, sobretudo em prisões no sul do país. Dos palácios para as prisões do deserto, eis a triste sina da família Oufkir. O assunto foi tabu durante muitos anos. O regime de Hassan II endureceu e a família desapareceu. Passados cerca de 20 anos, um dos Oufkir conseguiu fugir e contar o que se passava a um jornalista estrangeiro. As pressões internacionais sobre HassanII começaram a fazer-se sentir, o que o obrigou a libertar a família, após tantos anos de suplícios.
E eu ali estava, em frente a um verdadeiro monumento histórico, o prédio de Oufkir, em frente à praia, com a filha de um oficial da força aérea, na reserva, a quem Hassan II havia um dia presenteado com várias casas por serviços prestados (sabe-se lá se não tinha sido protagonista naquele atentado, ao lado do rei, claro está). Ah, como gostava de falar com o homem, de entender que papel tinha tido nesses quentes dias. Mas a minha posição não era muito confortável, a mãe já sabia que a filha tinha um caso comigo, o irmão era um enorme e radical islãmico, daqueles com a barba comprida, e eu achava que não me deveria arriscar uma entrevista, ainda por cima sobre um assunto tão delicado. Se o pai tivesse suspeitado da coisa, talvez eu não estivesse aqui hoje, talvez tivesse sido obrigado a casar, eu que nem divorciado estava!
Talvez até, com as minha perguntas indiscretas, fosse levado para a esquadra da policia política, onde me sujeitariam a um interrogatório, como me aconteceu 10 anos antes, por ter tirado uma fotografia a uma esquadra de polícia, nos arredores de Casablanca.
É por estas e por outras que quando me falam do filme Casablanca eu respondo: qual dos meus filmes em Casablanca? Aquele em que vivi 4 meses num bairro pobre da periferia?; ou aquele em que tive um caso com a filha do oficial na reserva e fui com ela para a minha tenda, depois de "comprar" o guarda do parque de campismo porque não nos deixavam entrar em hoteis porque não éramos casados?; ou ainda o do meu casamento, da minha conversão ao islamismo, no mês de ramadão religiosamente cumprido? A qual dos filmes se referem?

29 outubro, 2008

Biblioteca Victor de Sá - Uma visita com História!

Lembro-me bem, de em pequeno, aí pelo fim da década de sessenta, inícios dos conturbados anos setenta, do século passado, ter em casa, propriedade de meu Pai, um livro da sempre recordada e inovadora editora “Portugália”, de pequeno formato, cujo autor era um tal Victor de Sá. Recordo este livro, cujo nome se perde nas brumas da minha memória, e mais ainda o nome do seu autor, pelo simples facto de, na época, ter inquirido os meus progenitores do porquê de aquele senhor que eu não conhecia ter o mesmo nome que eu, mas com grafias diferentes: no caso dele o nome próprio escrevia-se com um C entre o I e o T; no meu próprio nome, eu não possuía o tal enigmático C…

Por aqueles tempos, registei ainda dois outros factos: que o livro pertencia a uma colecção, absolutamente marcante no panorama editorial português da segunda metade deo século XX, a colecção ‘Portugália’, organizada e dirigida por Augusto da Costa Dias a quem nos ligava a amizade segura que mantinha com meu Pai e que, mais tarde, vim a descobrir como autor; e que, o já falado Victor de Sá, não era outro senão o Professor Universitário e célebre ensaísta português, de seu nome completo Victor Baptista Gomes de Sá, nascido em Cambeses, Barcelos, Minho, em 1921.

Por estes dias, em que, como aluno do primeiro ano da licenciatura de História, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, me foi dada a oportunidade de, enquanto discente da disciplina de
Introdução à História – I, visitar pela primeira vez, a Biblioteca Central Victor de Sá, revisitei estas memórias avulsas e fui indagar com mais profundidade o que poderia, desde logo, acrescentar ao meu conhecimento sobre o Homem de Cultura que deu nome a esta biblioteca.

Victor de Sá (1), inciou a sua carreira profissional em Braga, precisamente com vinte anos, em 1941, tendo começado a trabalhar no ramo livreiro. Só em 1959, obteve na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, a sua licenciatura em Ciências Histórico-Filosóficas, tendo-se doutorado em Paris, dez anos depois, em História. Já depois do 25 de Abril de 1974, exerceu a docência nas universidades publicas de Braga e do Porto e, ainda, em universidades privadas em Lisboa, como é o caso da nossa Universidade Lusófona.

Victor de Sá, deixará o seu nome ligado à Academia e, também, às letras com vários títulos, sobretudo no campo da cultura, política contemporânea e política colonial portuguesa, desde o período do triunfo do liberalismo até aos períodos mais recentes da nossa História.

Foi pois, com alguma emoção, muito respeito e uma profunda veneração pelo Homem que deu nome a esta Biblioteca que iniciei esta primeira visita em que fomos acompanhados pela Professora Doutora Olga Iglésias.
Instalações modelares, modernas, confortáveis e muito funcionais, convidativas à leitura, estudo e investigação, esta Biblioteca poderá e deverá constituir uma importante e facilitadora ferramenta de trabalho para todos quantos agora iniciamos a nossa grande aventura no campus universitário. Depois das explicações gerais sobre os métodos e sistemas de arquivo da biblioteca, depois de evidenciada, através da experimentação pessoal de todos os membros da turma, a busca informática, através do sítio da biblioteca, disponível no site da UL, foi tempo para uma visita guiada que se centrou, sobretudo, nas prateleiras da bibliografia ali depositada e abrigada na grande área da História.

Uma aula diferente, muito produtiva e entusiasmante pelas novas perspectivas e novos horizontes que nos são agora facultados para uma integração plena e frutuosa.



1. – “Grande Enciclopédia Universal”, Vários Autores; Durclub, S.A.; Espanha, 2004; Volume 17; página 11654.

25 outubro, 2008

O Paço Real de Sintra

Paço de Sintra, Duarte de Armas, 1509

«Entre todos os de Portugal, o Paço de Cintra, é o monumento que melhor synthetiza a sua história, desde o dominio sarraceno e da conquista christã até os nossos dias»

Foi entre a serra e o mar que cresceu a Vila de Sintra, recortada pelas magníficas chaminés do seu Paço Real.
Das origens do Palácio pouco se sabe, no entanto é certa a existência de um velho palácio árabe, que na era cristã, se tornaria num local de lazer para alguns dos monarcas da primeira dinastia, atraídos pelo clima fresco e caça abundante.
Mais tarde, já durante o início do reinado de D. João I, começaram as obras de construção do actual palácio.

Ilustração da Raínha D. Amélia 1897


«Quem sabe se a loira Filippa, saudosa dos frios e brumosos nevoeiros de Inglaterra, tisnada pelo sol ardente da Estremadura, ou cansada da paizagem torrada da leziria, não sentiu a atracção do glorius eden que o seu conterraneo, séculos depois, havia de cantar, e não induziu o marido a rehaver o Palacio, e a construir um monumento que ficou assignado pelo cunho da sua epocha?»

Foi durante a Dinastia de Avis que o Paço Real de Sintra atingiu todo o seu esplendor. Palco das brincadeiras dos infantes da "inclíta geração", foi naquelas salas que se começou a construir a base do império portugus com a planificação da tomada de Ceuta. Por lá também passaram alguns dos maiores nomes da cultura daquele tempo: Sá de Miranda, Gil Vicente, ou mesmo Camões, que segundo a lenda teria lido os Lusíadas a D. Sebastião no pequeno Pátio da Audiência.
Numa rápida visita ao Palácio destaco a Sala dos Cisnes, com um tecto magníficamente decorado por 27 cisnes em diversas posições, cada um ostentando um colar dourado ao pescoço. Logo a seguir a Sala das Pegas evoca a memória de todas as senhoras que falam do que não devem.
A Sala dos Brasões é talvez a mais famosa e a mais bonita e constitui a grande força de afirmação do poder real. No alto da cúpula estão as armas do rei, secundadadas pelas dos infantes e logo abaixo, setenta e dois brasões da mais notável nobreza da época. Logo a seguir a um pequeno corredorleva-nos ao quarto-prisão do infeliz D. Afonso VI. Descendo até à capela podemos admirar o lindíssimo tecto em madeira, notável exemplo da arte mudéjar. Finalmentre a visita termina na cozinha do Palácio onde se destacam os 33 metros de altura das chaminés e, logo à entrada os brasões do Rei D. Luís e de D. Maria Pia de Sabóia , com a inscrição: "Lusos às Armas, pela Fé, pelo Rey e pela Pátria."

«Vê-se passar allucinado, sonhando com a jornada de África, o corpo franzino do casto e abstémio D. Sebastião, Nun' Alvares da perdição, em cujo cerebro tremúla a pluma agitada do heroísmo. E lá em cima na estancia solitaria ouve-se o passo do infeliz Afonso VI gastando os ladrilhos...»

Citações a negrito, retiradas do livro; "O Paço Real de Sintra" da autoria do Conde Sabugosa, Lisboa, Imprensa Nacional, 1903.

24 outubro, 2008

Negócios da Índia: De pimenta ao Hélio-3

Justifica-se um país com tanta pobreza visível como a Índia que precisa de sustentar muitos milhões dos seus cidadãos que padecem fome meter-se em projectos lunáticos? Talvez. O processo de desenvolvimento no mundo globalizado não é tão linear como os defensores de missões de caridade nos queiram fazer crer. Os dinheiros que a Índia ou outro país em desenvolvimento não utilizar em projectos de adquirir força para dissuadir as intervenções interesseiras dos "ex-colonialistas e imperialistas" à cata de presas fáceis, nem estarão disponíveis para os proclamados fins altruistas!
Entre os principais objectivos da missão lunar indiana está a tentativa de detecção de hélio-3, um isótopo do elemento químico hélio bastante raro na Terra e que tem grande potencial energético. Calcula-se que 1,100,000 de toneladas métricas de He3 foram depositadas pelo vento solar sobre a superfíce lunar e devido às colisões com meteoritos muito desse He3 poderá ter sido empurrado para profundezas de alguns metros. Maior concentração se encontra nos mares lunares que constituem quase 20% da superfície lunar. Fornecimento de He3 para gerar energia na Terra pode resultar em receita de 300 bilhões USD anuais daqui a uns anos!

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22 outubro, 2008

Os avanços espaciais dos portuguesinhos


Portugueses vendem cortiça e bússolas à NASA

Não será isso uma repetição da sua tradição de comerciantes itinerantes (peddlars) da era pré- e pós-Descobrimentos? Os holandeses e os ingleses ultrapassaram os pioneiros portugueses com novas formas de fazer negócios e o resto que conhecemos é História. Bem falou o nosso Padre Vieira da História do Futuro. Podemos sempre continuar a viver com as esperanças do Quinto Império onde não haverá espaço para crises financeiras porque as especulações em derivados e futuros serão muito mais subtis e regulamentadas.


Fonte: http://tinyurl.com/5rya6s

Na pequena vila de Águas de Moura, no Alentejo, existe uma árvore que conquistou a agência espacial americana (NASA). Chama-se “Assobiador” e é o mais antigo e produtivo sobreiro do mundo. Tem 300 anos, 14 metros de altura e pertence à empresa Amorim Cork Composites, do empresário Américo Amorim, o mais rico de Portugal segundo o ‘ranking’ da revista “Forbes”. A cortiça que esta árvore produz – que pode ir dos 650 aos 1200 quilos, dez vezes mais do que a produção normal de um sobreiro – é fundamental para o revestimento de foguetões, satélites, sondas e ‘space shuttles’. “Resiste a temperaturas de dois mil graus, é um material muito leve e maleável e, mesmo quando entra em combustão, isso acontece de maneira muito lenta e sem perda de forma”, explica Alexandre Pereira, engenheiro da Amorim Cork Composites.

A cortiça tem, por isso, o perfil ideal para sobreviver a ventos solares, radiações cósmicas e amplitudes térmicas. Sabendo disso, o grupo Amorim viu na NASA uma oportunidade de negócio. Em 1995, comprou uma empresa americana, a GTS, que já vendia cortiça para a agência espacial. “É um bom cartão de visita. Se a agência utiliza a cortiça em veículos e missões espaciais, mais facilmente esses produtos serão usados pelas indústrias aeronáutica, ferroviária e naval”, explica Nuno Faria, director de marketing da empresa.

Por isso, o objectivo é estabelecer parcerias, como a que foi acordada em 2007 com a Airbus. As peças para a fuselagem dos aviões são feitas a partir da cortiça portuguesa. A Amorim Cork Composites facturou no ano passado 85,7 milhões de euros e, menos de um por cento deste valor, (aproximadamente 850 mil euros) veio dos negócios com a NASA. Com a agência espacial europeia (ESA), a empresa tem um projecto de investigação. “A cortiça ainda tem muito potencial para ser descoberto”, conta Alexandre Pereira.

Até chegar ao espaço, esta matéria-prima tem de passar por diversas fases de transformação. Depois de ser extraída dos sobreiros plantados na região do Alentejo é transportada em camiões para a fábrica da Amorim, na freguesia de Mozelos, em Santa Maria da Feira. A seguir, é colocada em máquinas trituradoras, para ficarem em pequenos grânulos. O produto final, que faz lembrar uma gigantesca duna do deserto do Sara, é guardado em armazéns e, posteriormente, embalado em volumosas sacas. “Por fim, partem em navios a caminho da nossa fábrica, nos arredores de Chicago. Ali, os grânulos são misturados com resina e transformados em placas próprias para o revestimento dos veículos espaciais”, conta Alexandre Pereira.

Boas notícias por e-mail

A NASA também gosta de surpreender. Em 1998, os co-fundadores da empresa Critical Software – Gonçalo Quadros, Diamantino Costa e João Carreira – receberam um email da agência espacial americana. Os três investigadores estavam a terminar o doutoramento em engenharia informática e a agência ficou fascinada com um programa criado por eles, o Xception. Antes de cada missão espacial descolar, este programa provoca milhões de falhas possíveis num sistema que, por exemplo, integra um satélite ou ‘space shuttle’. Isto significa que, quando estiverem em contacto com os ventos solar, radiações e outras dificuldades reais, os sistemas conseguem solucionar rapidamente os problemas. “O Xception permite a simulação de um conjunto infinito de falhas. Com isto, as agências espaciais evitam perdas humanas e gastos desnecessários de dinheiro, pois podem corrigir eventuais problemas ainda no solo”, explica Bruno Carvalho, responsável da Critical pelo desenvolvimento de negócios para a área do espaço.

Trabalhar com a NASA abriu muitas portas à empresa fundada pelos estudantes universitários. A instalação de uma filial em Silicon Valley, na Califórnia, era vital para a manutenção do negócio com os americanos. “O Xception é uma tecnologia de duplo uso: tanto serve para o espaço como para ser aplicado noutros mercados como a banca, energia, governo e defesa”, diz Bruno Carvalho. A Critical criou ainda outro projecto para a agência espacial americana, o Space Aqua.

“Permite verificar e validar a robustez de todos os módulos de software necessários a um sistema crítico, como os que integram as missões espaciais, garantindo que todos os componentes se encontram bem integrados”, acrescenta o responsável. As agências espaciais japonesa (JAXA) e chinesa (CSA) também se tornaram clientes destes produtos. Para a ESA, por outro lado, a Critical lançou um programa chamado PremFire, que através de imagens de satélite, também pode ser usado pela protecção civil e serviços de bombeiros na coordenação do combate e prevenção de incêndios.

A diferença de poder entre a NASA e a ESA é bastante significativa. A começar pelo orçamento. O da agência americana é de 9,6 mil milhões de euros/ano, ao passo que o da europeia é de 2,9 mil milhões de euros. Em relação ao investimento espacial per capita a discrepância é a mesma. Em média, cada cidadão de um país membro da ESA (17 Estados membros da Europa) paga, em impostos para gastos com os programas espaciais, o equivalente a um bilhete de cinema (5 euros). Nos Estados Unidos, o investimento em actividades espaciais por habitante é quase quatro vezes superior, perto dos 20 euros.

Uma bússola no espaço

Metade da facturação conseguida no ano passado pela empresa Edisoft, com sede no Monte da Caparica, na margem Sul do Tejo, chega do espaço. Esta empresa criou para a NASA um sistema de monitorização dos oceanos através da observação e recolha de dados por satélite. “Podemos seguir todos os passos de um navio que esteja em águas americanas. Calculamos ainda o rumo e a velocidade. Isto significa que todos os movimentos suspeitos são detectados, como descargas de crude ou entrada de materiais ou pessoas em alto mar”, explica Rodrigues Sousa, director da Edisoft.

A informação chega à agência espacial que depois a distribui por outros departamentos americanos como é o caso da Homeland Security – o departamento de segurança nacional. O mesmo sistema é usado nas missões dos foguetões Ariane 5, lançados pela ESA. A Edisoft, que supervisiona a Estação de Satélite Nacional de Observação da Terra, na ilha de Santa Maria, nos Açores, controla a trajectória do foguetão ao milímetro. “É por uma questão de segurança. Quando passa por Portugal sabemos tudo o que está a acontecer”, acrescenta o responsável da Edisoft.

Para que os satélites ou ‘space shuttle’ não fiquem confusos é preciso que haja orientação a bordo. A Lusospace, que fabrica magnetómetros (bússolas espaciais), sabe como isso se faz. “Permite saber a direcção do campo magnético à volta do satélite. Se está orientado para a Terra ou para o Sol. No fundo, estamos a fazer o mesmo que os antigos navegadores”, explica Ivo Vieira, o fundador da empresa. Para já, as bússolas estão instaladas em dois satélites de observação do planeta: um que tira fotografias e outro que mede a velocidade do vento. Outro dos projectos que já está concluído foi o de colocar no visor do capacete dos astronautas um sistema electrónico, que “permite dar informações gráficas sobre o campo de visão, a temperatura e os níveis de oxigénio”, diz Ivo Vieira.

É possível fazer mais e melhor nos negócios espaciais?

21 outubro, 2008

Por Santiago, Patrono da nossa Ibéria Histórica!

Acabo de chegar de uma peregrinação cultural a Santiago de Compostela, guiado pela bondade e pela sabedoria do Cónego Armando Duarte e rodeado por alguns amigos e muitos paroquianos da Basílica de Nossa Senhora dos Mártires, erigida no coração boémio, tradicional e cosmopolita do nosso secular Chiado, em Lisboa, a quem me uniam a fraternidade cristã, me irmanavam a prática de uma palpitante nova evangelização e a devoção ao Glorioso Apóstolo Tiago, Patrão da Ibéria. Acredito, sinceramente, que Santiago, quando por aqui andou por estas terras da peninsular ponta do velho continente, dando a conhecer a Palavra do Senhor, não ficou indiferente ao fenómeno do que era já, então por aqueles tempos, os radiosos, significativos e impressivos marcos da História. De certo que, por aquelas épocas bíblicas, a Santiago, não foi dado o prazer de ver uma paisagem como nós hoje a conhecemos, repleta de monumentos, obras e feitos assinados pela capacidade evolutiva do Homem, ao longo dos séculos. Mas, as inúmeras evidências e os múltiplos registos da História, já então existentes, por estas belas paragens, foram seguramente motivo da atenção e lógica avaliação do primo - irmão de Jesus. Santiago, de certeza, que pelo belo espectáculo observado nos campos desta Ibéria nossa, ficou historiador amador!
A renovação e a consolidação da Fé, nos conturbados tempos que vivemos – e tempos ainda mais difíceis se avizinham, tanto em Espanha como em Portugal, para quem ainda acredita na tradição - em actos como este, onde a alegria da partilha, da comunidade e da solidariedade, se sobrepõem às dificuldades próprias da caminhada, fazem-me pensar que, como amantes da História, historiadores amadores ou simples alunos de História, também nós, não podemos continuar a olhar só para o nosso umbigo! Há que dar as mãos, unir esforços, esbater diferenças, combater o imobilismo, ultrapassar as comodidades e os egoísmos, limar arestas e cerrar fileiras. Há, também, que ultrapassar fronteiras! Sem falsas modéstias nem arrogantes convicções! De um lado e de outro da fronteira, assim como há gente com fé, independentemente da língua, há historiadores que urge reunir pelos valores e experiências que têm em comum!
No início de Janeiro, estive em Arévalo, província de Ávila, na celebração de umas inolvidáveis jornadas culturais internacionais, onde num serão, com a participação de mais de duzentos e atentos interessados, se deu a conhecer realidades culturais e históricas nacionais em terras de Sua Majestade Espanhola. Aproxima-se, a passos largos o início dos anos académicos de várias instituições científicas e culturais que juntam investigadores e historiadores ibéricos, sobretudo ao nível das Ciências ditas Auxiliares da História e a reunião da grande Família da Comunidade Científica ligada à Heráldica, à Genealogia, à Falerística, à Sigilografia, etc…de ambos os países ibéricos. E, logo a seguir, no VI Colóquio Internacional de Genealogia, já agendado para Abril de 2009, em Guimarães, lá estarei a marcar presença em mais uma edição em que a nossa capacidade organizativa acolherá os melhores de todo o mundo na área das ciências genealógicas. É, com estas actividades que me refaço de um saudável gozo e orgulho com as cores de Portugal.
Contra os ventos de desânimo, os perigos que se mostram sob a capa dos totalitarismos ditos democráticos, não é com balofos e passadistas conceitos de falsos nacionalismos que conseguimos rumar por uma História melhor, mais profissional, mais tecnologicamente evoluída – no verdadeiro sentido do termo! - e com um futuro mais risonho! Cabe à iniciativa privada, à sociedade civil, à Academia, à Universidade, marcar o rumo dos novos tempos, sem paternalismos ou patrocínios oficiais. A História, porque universal, é única! E, se me perdoam, o ‘pecado’…única e imortal! Saibamos ser dignos de continuar o trabalho imenso de desbravar e compreender a História para um melhor e maior bem estar no Futuro que caberá aos nossos filhos e netos!

20 outubro, 2008

SÉ DÁ DÓ...

Não, não se trata de um título de uma música dos Abba. São três palavras que formam uma frase. Acrescente-se o artigo "A" no início e temos A Sé (freguesia do Porto) DÁ (verbo-3ªa pessoa do verbo dar) DÓ (do latim dolu-sentir dor; pena, em português trivial).
Não me vou referir a nenhuma degradação de monumentos; não vou apontar a desertificação preocupante que o Porto tem vindo a sofrer.
Quem anda pela Rua Escura, pela Bainharia, e até mais "cá em cima", pela Batalha, não pode deixar de reparar nos habitantes da Sé, pelo seu aspecto medieval.
Nos tempos medievais, nomeadamente, e mormente, em períodos de fome, o povo andaria sujo, mal vestido, dentição precária, cabelos desgrenhados, imundos. Muitas pessoas coxeariam, tal a ausência de cuidados médicos e consequentes mazelas. Partir uma perna poderia significar ficar a coxear para toda a vida. Uma cárie, que deveria começar em tenra idade, tal a falta de conhecimentos, informação e meios para cuidar dos dentes, significaria, mais tarde ou mais cedo, menos um dente. Imagino a quantos não faltariam dentes, imaginando até que poucos teriam mais de 4 ou 5, e mesmo esses a sangrar e a querer cambalear na gengiva. As unhas sujas, partes íntimas nauseabundas, pés com quantidades generosas de "sulfato", traduzindo reações químicas inimagináveis e cheiros de odor forte, mas não incomodativo, tal a coerência de comportamentos existente nessa época.
Na Sé, as pessoas na Idade Média já deveriam gritar umas com as outras, acto tão próprio de quem nasce a ouvir os familiares e vizinhos a gritar. Não havia internet nem telefone e gritar seria um bom meio de fazer passar a menssagem, mesmo de quem estivesse no cimo da muralha fernandina e quisesse falar com o primo, mais próximo da Sé Catedral. Não conheço nenhum estudo sobre os palavrões, se são coisa recente, se antiga (O Prof. Alfredo Margarido diria, a este propósito "está por realizar a monografia do palavrão"), mas imagino um povo imundo e sem dentes a dizer muitos palavrões, que substituíam expressões de mais difícil pronúncia, de maior dificuldade vocal ou, de inverso modo, desconhecimento de palavras que substituíssem os milenares, tradicionais e familiares palavrões.
Aqui um parêntese para observar que talvez a ausência de dentes, sobretudo nos meios mais pobres, mas não só, pode até ser responsável pela pronunciação continuadamente errada de certas palavras, podendo até dar-se o caso de alterações definitivas de pronúncia ao nível popular. Já para não referir alterações profundas no linguajar. ( o Prof. Margarido diria "está por fazer um estudo sobre a influência da ausência de dentes nas alterações da pronúncia").
Gente pobre, que comia o que havia, e quando digo "o que havia" não digo sardinha enlatada em vez de salmão; não digo pão com manteiga em vez de pão com bife; não digo maçã em vez da cara e longínqua manga.
Passados tantos séculos muitos destes pontos mantêm-se. Mesmo que fossem excepções, poderia falar-se nelas como reais, tradicionais, mas, sobretudo, dramáticas, com características de triste fado. Mas não, não são excepcionais, são muitas, visíveis, audíveis, perceptíveis, cheiráveis (olfactáveis?).
A Sé dá dó, com os seus habitantes sujos e coxos, com espaços no lugar dos dentes, com as mãos sujas, de saco de plástico nos braços, sapatos velhos, corcundas Os mais novos, de pulmões ainda vigorosos, a insultarem os filhos, insultando-se muitas vezes, não sei se por engano, a si próprios e aos pais das crianças. Melhor vestidos, por vezes, mas ainda assim, e sempre, com qualquer marca própria, típica de gente pobre há gerações.
Todos fomos um dia pobres, isso é certo, mas estas gerações da Sé do Secs. XX e XXI pararam no tempo um dia. Alguns mudaram-se, uns levando com eles as tradições milenares, transportando-as para outras regiões e com eles o linguajar, os modos grosseiros, mas talvez já não a roupa suja e os dentes tão podres; outros deixaram os dentes podres na Rua Escura, entrando no progresso, rumo a uma globalização que teima em afastar-se da Sé.

O ACORDO ORTOGRÁFICO E A PRÉ-HISTÓRIA

Não se preocupem os mais conservadores, porque mais de 30 milhões de indivíduos que falam português talvez nunca venham a aplicar/utilizar nenhuma das novidades do novo Acordo Ortográfico. Ao que se sabe nem o acordo de 1990 a esta "fatia de queijo" da população lusófona chegou. Digo "fatia de queijo" intencionalmente, porque há fatias de queijo que são melhor tratadas, por um lado, e pessoas, seres humanos, que são tratadas como números, como fatias de um qualquer queijo estatístico, na melhor das hipóteses.
O Novo Acordo é bem vindo, eu sei, mas era bom fazer chegar um acordo qualquer, nem que fosse um de 1825 ou 1975, o que houver aí disponível, para que algumas franjas de população, nomeadamente no Brasil (14 milhões de analfabetos) e Moçambique (10 milhões de analfabetos) e, porque não, a Portugal, com 700 mil analfabetos, tivessem acesso a ortografia, nem que fosse a a uma semi-ortografia, ou seja, a uma ortografia em que metade de cada palavra fosse bem escrita, o que indiciaria, desde logo escrita e não a sua ausência.
Se a Pré-História é, por definição, o período antes da escrita, então trata-se tão-só de tirar 30 milhões de indivíduos desse período em que se encontram.

03 outubro, 2008

neo-liberalismo ou bordel financeiro?

Desde a segunda metade do século findo, o capital internacional representado por uma centena ou pouco mais de maiores corporações se utilizou do Fundo Monetário Internacional, do Banco Mundial e da Organização Mundial do Comércio para impor a todos os países do hemisfério sul a chamada política neoliberal. Essa política neoliberal não teve outro papel do que destruir as economias nacionais, submetê-las à lógica dos interesses das grandes corporações e diminuir o poder de intervenção dos Estados nacionais. O resultado das políticas de neoliberalismo: as economias periféricas quebraram e as condições de vida para os povos do Sul pioraram. Apenas uns 10 por cento da população de cada país se locupletou, como capatazes desse bordel financeiro. A regulamentação das instituições deixou-se ao chamado “mercado”, que mais não era do que as mesmas corporações e as suas especulações que encheram as suas carteiras com lucros produzidos “ex nihilo”. Os seus capatazes, ou seja os políticos “democraticamente” eleitos pelos seus meios de comunicação conseguiram deixar muitos dos seus pobres eleitores a arriscar as suas vidas para vender a quimera de democracia ao Afeganistão, Iraque, Kosovo, etc. Para o cúmulo de desgraça os pobres são agora chamados para cumprir a obrigação nacional de investir os seus magros fundos de pensões para resgatar um sistema financeiro que os defraudou ao longo dos tempos! Pode não tardar o momento de “quousque abuteris…” para alguns representantes mais ousados, mas obviamente “terroristas” para as autoridades “democraticamente” em poder, exigir cabeças dos executivos da Wall St. para a guilhotina!

O que começou como a crise de crédito está a revelar-se para quem tem olhos para ver como uma consequência natural de um sistema político neoliberal com capitais e mídia falsificados para impor democracia! Não vai fazer muita diferença se é McCain ou Obama a gerir o bordel. Mas com certeza não será o terrorismo global atribuído a Al-Qaeda que vai matar mais inocentes!