Nos últimos meses, surgiram-me várias questões na cabeça, pelo que começarei a minha primeira intervenção neste espaço com aquela que mais polémica tem levantado, um pouco por todo o mundo, nomeadamente desde o lançamento do romance de Dan Brown, “O Código Da Vinci”.
Partirei do principio que estamos todos, mais ou menos, inteirados do assunto que o mesmo trata e, como tal, do que originou, tanto na comunidade cientifica como na comunidade religiosa. Assim sendo, também terá reflexos na comunidade a que nós, formados em História, pertencemos!
Excusando-me a fazer um resumo ou mesmo uma critica ao romance que, aliás, li com algum interesse, as questões que ali se tratam parecem ter afectado muita gente, pessoas talvez mais importantes do que possamos ter ideia. O seu autor, diz-se, teve acesso, durante anos, aos arquivos ditos secretos do Vaticano, o que terá deixado a sensação de que sabia do que falava quando escrevia acerca do Santo Graal, de Jesus Cristo e de Madalena. Longe de se saber a veracidade de tal facto, o certo é que passou a ideia de que o que originou( desde guias especializados em desmentir o autor, a outros romances que confirmam muitas das suas ideias ), é o resultado de algo maior do que apenas contestação ou aceitação.
Dan Brown, no fundo, parece estar a mexer com dois mil anos de História, Fé e Crença, o que mexe também com os sentimentos e as certezas de uma civilização que, como os meus avós e pais, cresceu com a presença de Deus, Jesus, a Crucificação, a Última Ceia, a Ressurreição.
Como explicar a esta civilização que, como afirma o autor, Madalena foi esposa de Jesus, fazendo dele um homem comum? Uma só questão que, para quem leu o romance e está a par das discussões posteriores, tendem a levantar muitas mais.
No entanto, não é para falar de “O Código Da Vinci” que escrevo. As questões que ali se levantam e que na minha cabeça originaram muitas mais, são, aqui, muito mais importantes. Aconteceu, por acaso, ter acesso a um texto de um autor de seu nome La Sagesse, que leva o assunto muito mais longe, causando-me uma grande estranheza ou mesmo uma grande estupefacção: segundo este autor, Jesus Cristo, a Religião Cristã, as crenças e tudo o que foi construído durante dois mil anos e tido como verdadeiro, não passou disso mesmo, uma construção! Se o romance já me havia deixado confuso, este texto que agora refiro deixou-me ainda mais! Questionar é uma coisa, afirmar é outra completamente diferente.
La Sagesse, entre outras coisas, afirma que Jesus não existiu, é uma espécie de mito, criado para o benefício de alguns. Que a Bíblia é uma compilação de coisas falsas, de estórias posteriores a Cristo e que foi adulterada ao longo de anos, com o único objectivo de fazer “calar” os escritos de contemporâneos de Jesus Cristo que, aliás, nem sequer mencionam o seu nome nem nenhum dos seus actos.
Levantam-se assim outras questões que nos deixam a pensar. La Sagesse questiona a figura de Deus como sendo o Criador, ser omnipresente e omnisciente, quando a ciência nos deu provas que o nosso planeta é uma infima particula de um extenso universo. Há ainda quem faça a pergunta: que legitimidade terá um Deus único, omnipresente e Criador perante a enorme quantidade de deuses egipcios, gregos e romanos?
Não querendo, de todo, lançar qualquer tipo de polémica, a intenção aqui é procurar, com o debate, esclarecer mais do que as minhas dúvidas, as dúvidas de alguns colegas, porque as deve haver.