11 abril, 2006

Querem ver que a história foi mal contada...

Na passada semana o Diário de Notícias relatava sobre uma investigação patrocinada pela National Geographic, a propósito de um manuscrito encontrado na região de El Minya, no Egipto, o qual foi já autenticado através de carbono 14, peritagem paleográfica e análise física do papiro.
Nesse documento, intitulado "O Evangelho Segundo Judas", é contada outra versão da cruxificação de Cristo, segundo a qual Judas Iscariote, ao invés de ter traído o seu mestre por 30 dinheiros, limitou-se, outrossim, a cumprir as instruções emanadas do próprio Jesus para o entregar aos soldados romanos, que lhe teriam então pago aquela verba.
O que é interessante nesta outra versão dos acontecimentos que levaram à celebração do que é hoje a Páscoa, é que a "responsabilidade" de Cristo no seu próprio sofrimento é de certo modo corroborada pelas Escrituras canónicas, isto é, aquelas oficialmente aceites. Numa análise cuidada, como a que foi feita num documentário transmitido há algum tempo atrás pelo Discovery Channel, pode concluir-se que: a) Cristo afrontou directamente a autoridade do sumo sacerdote, ao atacar e agredir os comerciantes no templo; b) não fugiu quando teve oportunidade, ficando calmamente à espera da chegada dos soldados romanos; c) nada fez para se defender ou contrariar as acusações que lhe eram dirigidas, mesmo quando Pilatos, a instâncias da esposa, se propunha oferecer-lhe uma oportunidade de se salvar.
Salientem-se ainda outros manuscritos, os de Nag Hammadi, produto da corrente gnóstica dos primórdios do Cristianismo, que defendia, entre outras coisas, uma interpretação pessoal das Escrituras, em oposição à interpretação "ortodoxa" definida pelos bispos da Igreja emergente do séc. I e, como tal, por esta considerados apócrifos e heréticos e votados à destruição. Para uma Igreja que procurava afirmar-se e congregar o maior número de pessoas, ao mesmo tempo que fazia face às perseguições das autoridades romanas - surgem nesta altura os mártires dispostos a morrerem pela sua fé, num processo curiosamente semelhante ao que actualmente move o Islão radical - a necessidade de haver uma fundamentação comum da liturgia era imperiosa para a união em torno de conceitos comummente aceites. Não poderia assim tolerar interpretações divergentes ou que variassem conforme a região.
Agora que foram descobertos estes manuscritos, que oferecem uma visão nalguns casos radicalmente diferente dos cânones da Igreja, qual será a reacção desta? Possivelmente irá ignorá-los como já fez antes.

3 comentários:

Marco Aurélio disse...

Fernão

A descoberta do Evangelho de Judas é um grande achado arqueológico e espero que os religiosos entendam isso. A Última Tentação de Cristo, A Paixão de Cristo, e o Código da Vinci foram duramente atacados pelas igrejas. Agora é diferente. Não se trata de um filme ou de um livro. É um documento verídico.
Essa vai dar muita polêmica!

Um abraço

Marco Aurélio

bombas disse...

Isto é tudo maquinado pelos Sionistas para se ilibarem da responsabilidade na morte de Cristo. Como se isso fosse fundamental.

O Pai disse...

Confesso que isto me confunde muito. Por vezes, se não estou com 100 % de disponibilidade intelectual, prefiro nem dizer nada...