30 junho, 2006

Timor, o neocolonizado

Timor está mais uma vez a ferro e fogo.
Sucedem-se os actos de vandalismo, as ameaças mais ou menos veladas, a crise institucional entre o Presidente da República (PR) e o Primeiro-Ministro (PM) agrava-se e de ambos os lados já se começam a "contar espingardas" (figurativa e literalmente) e a acertar posições tendo em vista... não se sabe bem o quê, mas paira no ar o espectro da guerra civil.
As causas?
São ainda mais confusas.
Ao que parece surgiram acusações de que o PM teria armado milícias para acabar com os opositores. Isto apoiado em "provas irrefutáveis" como sejam uma reportagem televisiva num canal australiano ou declarações de alguns "arrependidos". Tanto quanto se sabe ainda não houve qualquer investigação independente.
E porque seria necessária uma investigação independente? As instituições judiciais timorenses não terão competência para investigar o caso?
Pois, aparentemente não. Formaram-se comissões de descontentes, os militares revoltaram-se, a população que não está ocupada a fugir da violência toma um ou outro partido, mas das autoridades judiciais ainda não se ouviu qualquer expressão. Será que existem?
Por outro lado, regista-se uma quase omnipresença de militares australianos cuja missão oficialmente divulgada seria a de restabelecer a paz. Infelizmente, porém, o que se tem verificado é que quem incendeia casas tem actuado quase impunemente, pois surgem aqui e ali relatos de impassividade dos soldados da Austrália perante a situação.
A par disso, há a registar certos atritos entre os portugueses e os australianos. Desde os obstáculos postos ao envio de força da GNR, passando pelo desautorizar desta em pleno teatro de operações, chegando ao importunar de individualidades portuguesas como é exemplo o caso da visita do nosso Duque de Bragança, que viajando num carro com identificação da embaixada de Portugal e escoltado por um elemento dos GOE, foi mandado parar por uma patrulha australiana sendo que ao polícia português foi exigida a entrega da arma pessoal (devo dizer que não conheço pessoalmente o sr. Duarte Pio, mas, pelo que tenho visto na TV, acho que ele não se parece nada com um incendiário timorense), tem-se assistido a uma certa má vontade contra Portugal, como se a presença da antiga potência colonial fosse de algum modo inconveniente para os projectos de uma potência regional que terá quiçá aspirações a neocolonial.
E porquê? Porque razão haveria a Austrália de se preocupar com um dos países mais pobres, senão o mais pobre, do mundo?
Bem, o país poderá ser pobre mas tem importantes riquezas naturais estratégicas como o petróleo e o gás natural, as quais sem dúvida justificarão uma tentativa de influenciar a sua política interna no sentido de colocar no poder alguém mais "compreensivo" para com os interesses de Camberra, uma visão que é de resto unanimemente partilhada por quem teve ocasião de conhecer de perto a realidade timorense.
Mais uma vez, como em tantas ocasiões anteriores, a riqueza do petróleo transforma-se numa maldição para quem a possui. Vem-me à memória a minha visita a Cabo Verde no distante ano de 2000. O motorista do táxi que nos transportava, um respeitável senhor de meia-idade, contava orgulhoso que na ilha iria nascer uma fábrica de lapidação de diamantes e a minha esposa terá dito que o que seria bom era que no país fosse encontrado petróleo; resposta imediata do caboverdiano: "Deus me livre!"...

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