Estou a finalizar a leitura da biografia deste rei, da autoria de Adão Fonseca, inserida na colecção Reis de Portugal editada pelo Círculo de Leitores.
É uma obra que escalpeliza ao pormenor todo o reinado de D. João II, não esquecendo a conjuntura que este herdou de seu pai D. Afonso V e as consequências do mesmo para o país.
Pode afirmar-se que se trata de um trabalho homérico, atendendo a que a informação disponível se encontra na maior parte dos casos dispersa por diversas fontes, mas que se lê com interesse.
Saliento aqui o capítulo sobre a política de expansão ultramarina iniciada por D. Afonso V e concretizada pelo seu filho e a mudança conceptual que esta implicou nas mentalidades da época. De facto, até ao seu reinado pensava-se, em termos genéricos, o Atlântico como uma continuação na horizontal do Mediterrâneo, o que ficaria estabelecido no Tratado de Alcáçovas-Toledo que preconizou uma primeira divisão do mundo conhecido entre Portugal e Castela. Nos posteriores tratados de Tordesilhas (sim, foram dois assinados na mesma altura, um sobre o comércio da Guiné e outro, o mais famoso, que foi a delimitação de 350 léguas para Ocidente a partir das ilhas de Cabo Verde) , assiste-se a uma divisão na vertical do mundo então conhecido e a conhecer.
Isto só foi possível graças ao trabalho de exploração da costa africana iniciado por D. João II, que mudaria o enfoque da política externa portuguesa, deixando esta de estar centrada na Europa e nos seus jogos de influências, para se expandir para além desta.
E como foi isso conseguido?
Pela experiência de marinharia dos portugueses que, consoante a época do ano, eram pescadores ou corsários, adquirindo competências de navegação no alto mar que seriam úteis para a posterior descoberta do caminho marítimo para a Índia.
De referir ainda que D. João II dispunha de um eficaz serviço de informações. Obviamente não nos termos em que hoje é entendido, mas algo mais parecido com o ter pessoas da sua confiança gravitando na corte castelhana (não necessariamente espiões), as quais lhe forneceriam dados preciosos sobre as opiniões dominantes ou sobre as tendências políticas que teriam mais hipóteses de se concretizarem no pensamento dos Reis Católicos, permitindo assim ao soberano português negociar indo ao encontro dos interesses castelhanos ao mesmo tempo que promovia os da coroa portuguesa.
Pelo exposto, e apesar de haver sempre uma componente de lenda nos cognomes dados aos reis, penso ser inteiramente justa a denominação de Príncipe Perfeito, dada a política por este Rei desenvolvida, a qual se pode considerar nos primórdios de um Absolutismo pela ênfase posta na autoridade régia e do Estado.
Recomendo vivamente para quem quiser saber mais sobre, por exemplo, os bastidores da expansão ultramarina de Portugal.
19 junho, 2006
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