No dia 25 de Novembro de 2010, quinta-feira, pelas 19h00, realizou-se um evento na Casa de Goa que consistia no visionamento do documentário “The Other” (“O Outro”), filmado entre Dezembro de 2006 e Agosto de 2009, e posterior debate sobre a identidade goesa (principal tema do documentário).
Antes do visionamento do documentário, Leonor Coutinho fez um discurso de abertura aludindo ao nome de Sita Vales, uma goesa morta em Angola, e de seguida, Francisco Veres Machado, realizador do filme, frisa que há 500 anos atrás, Afonso de Albuquerque conquistou Goa, ao derrotar Adil Shah nas margens do rio Mandovi, e por consequência, emergiu a primeira colónia do Império Português que ficaria ligada a Lisboa até Dezembro de 1961.
Para entrarmos no espírito do documentário recita ainda um poema muito conhecido da Mensagem de Fernando Pessoa: A Outra Asa Do Grifo – Afonso de Albuquerque.
Posto isto, deu-se início ao visionamento do documentário, documentário este que mostra Goa como um objecto do jogo político, social, artístico e económico, sendo actualmente muito cobiçada por vários intervenientes pelos mais variados interesses (desde droga, casinos e máfias) e possuindo um elevado nível de criminalidade. Goa é aludida como uma “mina” de recursos naturais.
Conta-nos a sua história, desde os marcos políticos (conquista de Goa em 1510), marcos culturais como a língua, o teatro, as festas, a religião, marcos sociais, sobre as várias características da população e marcos económicos. O documentário representa de determinada maneira a alma das paisagens de um povo (Goa), onde várias culturas passaram por lá (inglesa e portuguesa). O filme contém a visão pessoal do autor (ver, sentir corresponde a uma Goa, pois existem várias Goas, e cada uma corresponde à uma visão).
Após o visionamento, procedeu-se como programado ao debate sobre a identidade goesa, onde os principais oradores foram Narana Coissoró (Presidente da Casa de Goa), Sérgio Mascarenhas (Ex delegado da Fundação Oriente em Goa), Jason Fernandes (Investigador e doutorando no ISCTE) e Francisco Veres Machado (já referido como realizador do documentário)
Começou-se por afirmar que Goa era o 25º distrito da Índia e considerado bastante fértil e cobiçado devido à rede natural de transportes - Rios Mandovi e Zuari. Situa-se entre Maharashtra a norte e Karnataka a leste e sul, na costa do Mar da Arábia, a cerca de 400 km a sul de Bombaim. É o menor dos estados indianos em território e quarto menor em população, e o mais rico em PIB per capita da Índia.
Relativamente à língua, o idioma oficial de Goa é a língua concani. Depois de Portugal deixar de comandar Goa, o concani e a língua marata são os idiomas mais falados no estado. O concani, no estado, é o idioma primordial; depois, surge a língua inglesa e a língua marata que são usadas para propósitos educacionais, oficiais e literários. Outras línguas incluem a língua hindi, a língua portuguesa e a língua canaresa.
Discutiu-se vários pontos do filme como: o orgulho Goês, o “sossegad” (aproveitamento dos tempos livres segundo os Goeses), a caracterização destes como bêbados e preguiçosos, a ideia de que Goa é a terra dos três S’s (Sol, sexo e surf), a Riviera indiana (sitio alternativo romântico com igrejas brancas), a primeira imagem de Goa (os edifícios brancos juntos aos coqueiros – que não existem na Goa islâmica), a tranquilidade do ambiente social, o mar acolhedor, os dois costumes (português e indiano), Tiatr (teatro burlesco goês), a importância do papel da Igreja em Goa, a taxa de literacia ser 100% em Goa, cerca de 6/7 canais de pequena dimensão (pouco desenvolvidos), só transmitirem noticias, Bollywood e a possibilidade ou não de conseguir definir a identidade Goesa.
Este último ponto, foi a base do debate e de todo o filme, sendo basatante discutido, manifestando vários argumentos: existe um paralelo entre a Goa Antiga (da altura dos Portugueses) e a Goa Nova, pois até 1961 fazia-se tudo como em Portugal, a partir daí os costumes e tudo o resto da Índia foi adoptado caminhando para uma nova identidade goesa que pretendia preservar a sua identidade, permanecendo na mesma certas influências a nível de festas religiosas e danças folclóricas.
Devido às migrações de outras regiões para Goa (trabalhadores) e ao aumento turístico caímos na incerteza de quem é goês em Goa, daí os mais variados artistas sensibilizarem quanto à importância histórica de Goa, pois segundo eles Goa está a perder a identidade cultural e histórica.
Em Dezembro de 2006 surge o " Save Goa Movement", devido ao confronto entre a globalização e a cultura regional, sendo Goa considerada especial como identidade e território.
Apesar de várias controvérsias e dos diversos obstáculos à definição da identidade Goesa, concluiu-se que é possível definir a identidade goesa.
Em suma, o documentário alerta-nos para a importância de uma identidade de um povo, neste caso a de Goa, exaltando tudo aquilo que é necessário para a preservação dessa identidade.
Vitor Fuseta
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