22 julho, 2005

A Misericórdia de Nagasaqui e o Aborto

Valignano organiza a Companhia de Jesus no Japão no sentido da união e coesão entre todos os missionários, para que o projecto evangelizador não se perdesse em contradições e cisões internas.[1] É na sequência desta visão que são transmitidas instruções[2] expressas para a:

1. A aprendizagem da língua japonesa;[3]
2. A tradução dos textos religiosos japoneses mais importantes, o seu estudo e refutação;[4]
3. A tradução dos textos religiosos e de grandes pensadores europeus;[5]
4. Conhecimentos profundos dos costumes e mentalidade dos japoneses[6].

Pela primeira vez, de forma sistematizada, é efectuado um esforço concertado por parte dos missionários, tendo como objectivo principal a adaptação à hierarquia religiosa japonesa, utilizando estratificações sociais conhecidas[7], de forma a poderem com maior facilidade converter os gentios japoneses à fé cristã[8].
Estas novas directrizes incluem também a manipulação de determinados costumes das populações japonesas com o objectivo de colmatar e reforçar as hostes deficitárias de padres. Um exemplo flagrante do que fica dito encontra-se no costume do aborto e do infanticídio, o qual é estrategicamente aproveitado pelos eclesiásticos europeus:

Em Europa, posto que o haja, não é frequente o aborcio das crianças; em Japão é tão comum, que há mulher que aborta vinte vezes.[9]

Esta prática recorrente na sociedade japonesa quinhentista e seiscentista seria utilizada por Valignano da seguinte forma:

Cuanto a lo tercero de recibir los niños que suelen matar las madres, parece que seria cosa muy buena, porque allende de salvar muchas almas y evitar muchos pecados tendría con el tiempo la Iglesia mucha gente de servicio, porque habría de ser en esta obligación: que alo menos hasta los treinta años quedarían obligados a servir a la Iglesia[10]

Esta ideia materializa-se na Historia de Japam de Luís Fróis, onde o autor refere a utilização de crianças que, abandonadas à sua sorte, são recolhidas pelos membros da Companhia, as quais serão instruídas na pregação evangélica, transformando-se em instrumentos fundamentais de propagação da fé em território japonês[11].
É nesta estrutura que se insere a Misericórdia de Nagasáqui, como um organismo que se empenha em atenuar as fricções sociais do Japão de então, e acentuar através de um profundo conhecimento da mentalidade nipónica, o movimento de conversão.

[1] Cf. L. Fróis, História do Japam., vol. III, 1982, ., p. 284:

Chegando o P.e Vizitador a Nangazachi chamou todos os Padres que estavão pelas rezidencias, tratando de novo as couzas que já tinha consultadas com os Padres de Bungo e do Miaco. E nesta derradeira consulta deo remate e poz termo ao que deixava ordenado em Japão, e se concluirão muitas couzas de grande serviço de Nosso Senhor. Também determinou alguns cazos que em Japão tinhão postos aos Padres, em grande perplexidade por serem difficultozos e novos e, conforme a rezolução que sobre elles deo (athé virem determinados e rezolutos de Roma por Sua Santidade), ordenou que corressemos todos para que não houvesse no governo desta christandade em couzas tão importantes diversidade nos pareceres.

[2] Ibid., pp. 177-178:

Deixou mais o P.e Vizitador ordenado o modo que havíamos de ter acerca dos costumes e cerimonias, e maneira de proceder da terra, couza muito dezejada dos mesmos japões, para se guardar em nossas cazas e nos podermos melhor conformar com elles; e que não hé de pouca importância para sermos bemquistos e tidos em boa opinião entre elles, porque, como os costumes e cerimonias desta terra são tão diferentes e contrários dos que se uzão em Europa, e athé agora não tínhamos huma certa ordem que houvéssemos de guardar acerca delles, alem de isto cauzar entre nós huma certa confuzão, não sabendo como nos havíamos de haver nos costumes e modo de tratar com elles, se seguião outros incovenientes mayores ficando muitas vezes os japões offendidos, e cauzando-se huma certa divizão de ânimos e perda de muito frutto pela contrariedade que havia dos nossos e dos seos costumes. Pelo qual se ordenou que em todo se procedesse em nossas cazas conforme ao modo próprio e acostumado de Japão, fazendo-se para este effeito huns avizos nos quaes podessem todos aprender os costumes e forma de proceder. E com isto e com os regimentos que deixou para se guardarem nas cazas e rezidencias para sermos todos uniformes, se entende que com a observação delles pode crescer muito entre os nossos a união dos ânimos e o frutto e reputação de nossa santa ley entre os jappoens.

[3] Ibid., p. 130:

[...] alem de se perfeiçoar a Arte que se tinha feita, se ordenou e se fez hum copiozo Vocabulario e alguns diálogos faciles e familiares na lingua de Japão com os quaes se forão os Irmãos grandemente ajudando [...]

[4] Ibid., p. 173:

Também fez o P.e Vizitador com alguns japões entendidos nas seitas hum diffuso cathecismo, bem ordenado, assim para por elle se poder pregar aos novos conversos, como para os Irmãos ficarem melhor instruídos e mais alumiados nas couzas de nossa fé quando cathequizassem os gentios.

Cf. P. Kornicki, The book in Japan, Netherlends, Koninklijke Brill NV, 1998, p.126: «These included part of the Heike monogatari in an adapted and romanized version.»
[5] Cf. P. Kornicki, op. cit., p. 126: «For the students, for example, there were texts in Latin, such as some of Cicero’s speeches and some Virgil as well as some devotional Works.»
[6] L. Fróis, op. cit., vol. III, 1982, pp. 324-325:

[...] o irmão Vicente japão, o mais insigne na língua e corrente nos costumes de Japão de todos os outros, para ensinar os mossos do seminário no modo de pregar, e lhes ensinar as falácias das seitas de Japão para com maior facilidade poderem nas pregações confutar seos erros, couza de que tinhão muita necessidade e que muito os ajudou e lhes deo grande lume e audácia para depois se hirem fazendo bons pregadores como sahirião.
[7] Takase Kôichirô, “Acerca da «Acomodação» na Missionação Cristã no Japão”, trad. Hiroshi Hino, Journal of the Faculty of Distribution and Logistics Systems, Universidade Ryûtsû Keizai, Ibaraki, vol. 34, n.º 1 (1999), pp. 114-115:

Falando da «aculturação» missionológica no Japão, lembramo-nos imediatamente da obra do padre Alessandro Valignano intitulada Advertimentos e Avisos acerca dos Costumes e Catangues de Jappão. O que é mais importante para Valignano nesta obra é a importância de os jesuítas manterem o prestígio secular e a autoridade religiosa. Isso não teria sido possível sem reconhecer a consciência hierárquica arraigada na sociedade japonesa de então. Parecia, por isso, conveniente ao padre Valignano “porem-se” vários graus sacerdotais, «na mesma altura em que os bomzos da seyta dos genxus [禅宗] que entre todas he tida em Japão por principal e que tem mais commonicação com toda a sorte de gemte de Japão». Assim, os jesuítas no Japão passaram a estar divididos em algumas hierarquias, a saber; o “Superior de Japão”, que «terá a altura do primcipal Não-jenjino ycho [南禅寺之院長]»; os “Superiores Universais”, que «terão a altura dos simco Choros de Gosan [五山之長老]», os “Padres todos [comuns?]”, que «estarão na altura que tem comummente os Choros [長老]»; os “Irmãos antiguos”, que «estarão na altura dos Xusas [首座], que são bomzos formados que esperão de ser Choros [長老]»; os “Irmãos novicios”, que «estão no amdar dos Zosus [蔵主], que são os que esperão de ser bomzos formados»; e finalmente os “Dogicos [同宿]”, assistentes catequistas não pertencentes à Companhia de Jesus, que «terão o luguar que tem nas ditas varelas os Jixas [侍者]».

[8] L. Fróis, op. cit., vol. II, 1981, p.366. Pode verificar-se no seguinte trecho essa contaminação conceptual:

O P.e Gaspar Coelho, por sua prudencia e virtude, foi logo encarregado pelo P.e Francisco Cabral a ser superior das partes de Ximo, e depois foi em ordem o 3º superior universal de Japão e primeiro vice-provincial que houve nestas partes.

[9] Cf. L. Fróis, Europa, Japão, um diálogo civilizacional no séc. XVI. Tratado em que se contêm muito sucinta e abreviadamente algumas diferenças de costumes entre a gente de Europa e esta província de Japão, apresentação de j. m. garcia, fixação de texto e notas por r. d’intino, Lisboa, Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses (col. “Oceanos”), 1993, p. 73.
[10] Cf. A. Valignano, Sumario de las cosas de Japon, cap. XXX, p. 343 (apud Irmã Ignatia (Rumiko Kataoka), “Fundação e Organização da Confraria da Misericórdia de Nagasáqui”, Oceanos, “Misericórdias – Cinco Séculos”, n.º 35 (1998), p. 114.
[11] L. Fróis, Historia de Japam, vol. IV, 1983, p. 6:

E porque em Nangazaqui são todos christãos, os filhos se vão multiplicando com estranha differença dos outros lugares dos gentios, porque os não matão; e muitos destes vem a ser dogicos dos Padres que andão na conversão, outros entrão nos seminários e os que Deus N. Senhor tem recolhidos são depoes admitidos na Companhia. E como são criados fora da disciplina venenoza dos bonzos, pela boa dispozição que tem e partes naturaes, se vão fazendo aptos instrumentos para ajudarem aos padres nos ministérios da pregação evangelica.

19 julho, 2005

PORTUGAL

Um texto singelo que nos faça reflectir um pouco, nesta altura de férias, foi o que decidi escrever:
Que belo país é o meu. Mudou tanto nos últimos anos Portugal. E que boas são as suas estradas e que limpas são as suas ruas. E a violência, apesar de tudo, não é um problema que não nos deixe dormir. Posso, em Lisboa, dormir com a pressiana entreaberta. A minha mãe pode deixar a sua casa de campo de fim de semana descansada, lá no norte. O risco de assalto existe, mas é tão pequeno que ela não pensa ainda montar um alarme nela.
Façam um esforço de memória e lembrem-se do nosso país há 20 anos. Agora comparem. O resultado é surpreendente, para quem, como eu, andou durante anos de terra em terra, acompanhando uma mãe professora que, ano após ano, era colocada cada vez mais próxima do Porto, o seu objectivo final. Assim, tive oportunidade de conhecer o país mais rural, o das vilas e cidades pequenas. Mais recentemente as cidades grandes.
O país já foi, sem dúvida, um terceiro mundista, pelo menos na Europa. Agora, digam o que disserem, não o é. Não estou a dizer que não há problemas estruturais em Portugal, longe de mim. Não estou a afirmar que tudo é belo e limpo e que não há gente em dificuldade, mas apenas que há melhorias que nos fazem sonhar com um Portugal ainda melhor, onde impere o civismo, uma palavra desconhecida em muitos países, e que começa a ter grande sentido entre nós. E onde, sobretudo, todos tenham as mesmas oportunidades.
Portugal tem passado e tem futuro.

06 julho, 2005

RECORDANDO O POETA VEIGA LEITÃO

Os anos vinte e trinta do século XX europeu foram marcados pelos regimes fascistas: o italiano, com Mussolini, desde 1923; o português, anunciado com a ditadura militar instaurada em 1926; o alemão que foi sem dúvida o que maiores marcas deixou; finalmente, depois da Guerra Civil de Espanha, o de Franco. Ora se aceitarmos a tese de que as vivências humanas e a forma do Homem ver o Mundo informam inevitavelmente as formas de representação e produção artística, compreende-se facilmente que aquele contexto político, sem dúvida adverso, ao qual poderiam ainda acrescentar-se os efeitos da crise económica de 1929, tenha influenciado a produção literária.

Fiquemos pelo Portugal da terceira década. Com a Constituição de 1933 e toda a legislação superveniente são proibidos os partidos políticos; os sindicatos ou qualquer forma de associação batiam no escolho da organização corporativa, ela própria, em nome do centralismo estatal, cerceada até ao final da década de cinquenta. Mas nem a censura , a polícia política , as prisões e o degredo abafaram uma parte da classe intelectual que, associando-se às classes mais desfavorecidas, sobretudo às rurais, teceu, de uma ou outra forma, sérias críticas aos poderosos círculos do capital bancário, agrícola, industrial e colonial. Na literatura, o autor - sem dúvida marcado por referências ideológicas mais ou menos próximas do marxismo e do materialismo histórico - sintonizado com os problemas e realidades económicas, sociais e políticas do seu tempo, ultrapassa o plano da criação estética e procura denunciar o desfavorecimento de uma classe social face à decadência e corrupção dos estratos dominantes. Ilustrativo desta ideia é a afirmação de Alves Redol em Gaibéus: «Este romance não pretende ficar na literatura como obra de arte. Quer ser, antes de tudo, um documento humano fixado no Ribatejo. Depois disso será o que os outros entenderem.»
A literatura é assim preenchida por um envolvimento histórico e social, inserido numa cultura de oposição que, no início da década de quarenta, vem a público com o aparecimento de duas colecções de livros: o Novo Cancioneiro, orientado para a poesia, a os Novos Prosadores, dedicado à ficção. Surge desta forma a chamada corrente neo-realista.
Mas novo em relação a quê? Novo em relação às correntes anteriores, sobretudo o Realismo do século XIX. Novo também porque é a transposição para a arte de uma nova forma de conhecer e se posicionar perante o Mundo. No entanto, a utilização do prefixo “neo” não significa que tenha havido um corte tão radical quanto poderia parecer à primeira vista; relativamente à Geração de 70, a novidade diz essencialmente respeito à postura ideológica. Com efeito, nem o neo-realismo convoca qualquer aproximação ao socialismo utópico, nem as vítimas aparecem envoltas numa auréola de glória. Agora, o Homem, autor ou personagem, assume um papel determinante e uma capacidade de intervir numa sociedade que se considera decadente, ou seja, o conhecimento do mundo exterior faz-se acompanhar de uma compreensão transformadora. Note-se que a Geração de 70, não encontrando soluções adoptou uma atitude de resignação.
Nos dois realismos existe a intenção de representação do real; o que muda é o alicerce ideológico, aspecto que, inevitavelmente, como qualquer obra literária comprometida ideologicamente e, por isso, interventora, informa as opções temáticas de um e de outro. Assim, se no realismo encontramos temas como o adultério, a ambição, a crítica de tipos sociais burgueses, etc., no neo-realismo as preocupações estão mais ligadas ao proletariado e à sua condição económica, à consciência de classe, à opressão económica ou política, etc.

A literatura, mesmo como fenómeno de criação estética, pode ser categorizada como forma de conhecimento, ainda que os seus processos de designar ou apreender o real sejam diferentes dos da ciência; mais, pode mesmo afirmar-se que, recorrendo a formas de expressão simbólicas correspondentes também a uma posição de conhecimento, procura ou tem por objecto uma realidade que a ciência não toca ou, pelo menos, não esgota.
É esta realidade que encontramos nos textos de meados do século do poeta Luís Veiga Leitão, notoriamente influenciados pelo neo-realismo de intervenção política.

Pseudónimo de Luís Maria Leitão, Veiga Leitão nasceu em Moimenta da Beira em 1915. Concluído o curso dos liceus, dedicou-se, depois de ter sido demitido de escriturário da Federação dos Vinicultores da Região do Douro, por ser contra o regime, à actividade comercial no ramo dos produtos farmacêuticos. Dois anos depois de publicar o seu primeiro livro de poesia (1950), Latitude, é preso por motivos políticos em Caxias onde escreve os textos aqui antologiados que viriam a ser publicados em 1955 sob o título Noite de Pedra. Em 1967, para como muitos outros evitar nova prisão, exila-se no Brasil de onde regressará, para viver no Porto, em 1976.
Nos textos que frequentam Noite de Pedra podemos encontrar elementos descritivos de uma situação vivida pelo poeta numa situação concreta: a prisão em Caxias. Mas de um universo fechado e hostil, inscrito em «Noite de Pedra», a escrita, no texto «A uma Bicicleta Desenhada na Cela», encaminha-se para outras realidades que, por afirmação de uma vida interior, convocam a liberdade.

NOITE DE PEDRA[1]

Noite de pedra

Cerração de muros
arames farpados
grades de ferro
cruzes de ferro
nas campas rasas
duma luz morta

E a lua os cornos da lua
uma baioneta calada

Noite de pedra noite forjada
- para que o silêncio esmague
o coração dos homens



A UMA BICICLETA DESENHADA NA CELA[2]

Nesta parede que me veste
da cabeça aos pés, inteira,
bem hajas, companheira,
as viagens que me deste.

Aqui,
onde o dia é mal nascido,
jamais me cansou
o rumo que deixou
o lápis proibido...

Bem haja a mão que te criou!

Olhos montados no teu selim
pedalei, atravessei
e viajei
para além de mim.






[1] Luís Veiga Leitão, Longo Caminho Breve. Poesias Escolhidas. 1943 – 1983, Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1985, p. 47.
O título que aqui se insere destina-se apenas a individualizar o poema, uma vez que no texto original ele é identificado apenas pelo primeiro verso.

[2] Op. cit., p. 70

02 julho, 2005

Viagem no Tempo

Conhecer Pernambuco é viajar no tempo. Pena que para trás, por algumas e decisivas razões, pelas que falei na "Era do Branco" e por outras que se prendem, para começar, com as acentuadas diferenças entre homem e mulher. O homem é macho aqui em Pernabuco: mata ou esfola quando a mulher trai, não paga a pensão dos filhos quando abandona a mulher e tem amantes no casamento.
O Motel pernambucano tem uma função que ajuda a constatar a promiscuidade social, pelo menos naquele estado brasileiro, senão em muitos outros. A Garota de Programa entra também na lista verdadeiramente supreendente das mais recentes instituições pernambucanas.
No Motel, o deputado federal, o delegado de polícia, o político eminente, o cantor famoso, mas também o trabalhador mais modesto, encontra as sua amante, seja a Garota de Programa mais cara, a amante habitual ou a namorada de ocasião, conhecida naquela noite no show de "Brega" (música de qualidade duvidosa, onde homem e mulher se agarram e se movimentam com grande sensualidade, em ritmo calmo).
A Garota de Programa devia ter sindicato e outras regalias sociais, tal a quantidade existente. Talvez até devesse ter acesso ao poder político. As condições socio-económicas, o desemprego e a sociedade machista deixa-lhes poucas alternativas. Uma delas é a de venderem o corpo, o único "bem" que verdadeiramente é seu, nesta sociedade desiquilibrada.
Neste mundo de homens-machos que é Pernambuco existem crianças de 4 e 5 anos a trabalhar o dia todo, a descascar castanha de cajú e outras de 10 anos a praticar sexo oral por 10 centavos de real (3 cêntimos de euro) aos automobilistas-machos que viajam pelo interior do estado.
Quando cheguei não queria acreditar que o Estado de Pernambuco fosse o menos desenvolvido do Brasil, como então lia nos jornais. A "pátria" de Maurício de Nassau?! O Pernambuco das revoltas e revoluções?! Aquela capitania bem sucedida do séc. XVI?! Esta Recife tão aparentemente sã, com o moderno bairro de Boa Viagem, o turístico Porto de Galinhas, a histórica Olinda será asim tão mau?
A resposta é esta: é bem pior...
Quase tudo falhou em Pernambuco e a "culpa" já não pode ser atribuída aos portugueses, ainda hoje referidos nos manuais escolares como "os que levaram o nosso ouro". Portugal, com aproximadamente a mesma área e população do Estado de Pernambuco, é-lhe infinitamente superior em segurança, qualidade de vida e igualdade social, pelo menos.
O alcool, a cola (a droga dos miúdos pobres, que cheiram em público, enquanto pedem esmola), a maconha são consumidos em grandes quantidades. Os assassinatos, os roubos sucedem-se a um ritmo inaceitável. A degradação atinge aqui o seu ponto alto.
Deus não é pernambucano, nem quando o Brasil é campeão do mundo de futebol nem quando as suas deslumbrantes mulheres se passeiam no Shopping Recife ou no calçadão de Boa Viagem, gingando graciosamente, com belos pares de pernas e proeminetes glúteos, em momentos de magia, que por alguns instantes conseguem fazer esquecer a realidade.