A maior contradição que Solis procura demonstrar nesta obra é um Império disfraçado en la apariencia, faltando en el la sustancia.Critica ferozmente a mentalidade ibérica, demasiado religiosa e conservadora em relação ao comércio, e o desprezo votado pela elite governante em relação aos mercadores, contrariamente o que acontece com venezianos, genoveses ou holandeses e ingleses . Acresce que para piorar a crise ibérica, a Fazenda-Real é gerida por pessoas não ilustradas no comércio , e que apenas uma junta de ricos comerciantes, preparados por possuírem um conhecimento profundo da economia, poderá contornar a crise . Por outro lado defende a minoria religiosa judaica, advertindo que os judeus ibéricos, detentores do grande capital financeiro, ao serem perseguidos ajudam venezianos e turcos , e como contraponto à perseguição que lhe é feita em todo o império filipino, apresenta a liberalidade holandesa que os sabe aproveitar e tomar partido das suas redes comerciais e de conhecimento.
Nesta análise tão profunda ao império filipino, Solis revolta-se através das suas palavras contra os nobres, os verdadeiros inimigos dos mercadores, a quem pedem empréstimos, e a quem denunciam de falsos cristãos quando não são socorridos, e que utilizam a origem judaica para usurparem os seus bens .
Utilizando um ditado de época “ a um Mercador-Cavaleiro não fies o teu dinheiro e de um Cavaleiro-Mercador guarda-te”, Duarte Gomes Solis dá a estucada final dizendo que se os Cavaleiros fossem Mercadores, puderia a Espanha e Portugal triunfar, na medida em que seria melhor para o Rei que o seu Reino fosse rico e Cavaleiros ricos Mercadores, e que dessa forma teria a Península Ibérica capacidade para gerir a Índia à semelhança dos Holandeses, que seguindo o principio Cavaleiro-Mercador ofereciam melhor comércio tanto a chineses como a japoneses, que siendo enemigos por naturaleza, y contra voluntad de sus Reyes, y a’riesgo de que siendo hallados seran luego Castigados: pero la codicia que tambien por su modo es maestra de todas las artes los amistò, y domesticò para los traer a sueldo, y no quiera Dios que se vean señores de la mar, y de la Índia, porque daran buelta en sus mercancias, de que se sabran aprouechar como mercaderes, y Capitanes .
Com estas palavras inflamadas de tom profético terminamos o nosso artigo. O Discurso sobre los Comércios de las Índias seria publicado em 1622, e o seu autor, Duarte Gomes Solis faleceria dez anos depois em 1632, deixando-nos nas suas palavras a visão densa e rica em pormenores da mentalidade de um arbitrista português seiscentista.
Passados quase quatro séculos, os nossos governantes continuam a acentuar a nossa decadência, demasiado ocupados em picardias inúteis e colocando em segundo plano projectos viáveis. A nossa sociedade continua a perseguir os úteis protegendo os inúteis, e apesar de estarmos em pleno século XXI continuamos com as mesmas raízes mediévicas... Todos os dias imolam a nossa inteligência com palavras criminosas... Como costuma dizer um amigo meu:
Portugal é um país de agricultores...
Os que podem cavam daqui.
Os que não podem são aqui cavados.
Os que ficam... são os nabos.
Aqui fica o apelo, deixemo-nos de vãs melancolias e aproveitemos o material humano que nos devia honrar cá dentro, e não o deixemos escapara para fora...
15 novembro, 2005
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1 comentário:
Vamos mas é cavar daqui!
É sempre bom, vencedor, relembrar-nos os nossos defeitos, já antigos. Eu que até andava moralizado pelo meu emprego novo...
Desculpem-me, mas terei que parafrasear alguém:
Falam, falam
Falam, falam
E não os vejo a fazer naaada!!!
Pero Vaz
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