20 novembro, 2008

O ofício do historiador

O autor ao identificar as ciências mais importantes para a investigação histórica deixa transparecer a sua preferência pela Antropologia, Sociologia e possivelmente a Psicologia, não se referindo à Demografia Histórica e à Paleografia, indispensáveis para descodificar os documentos coevos, possivelmente por achar que não valerá a pena citá-las.
Mas que Fernão Lopes “ …em andar por mosteiros e igrejas buscando os cartórios e os letreiros delas, para ver essa informação… não ainda em este reino… ” os citou. É verdade que estes documentos de um modo geral apresentam apenas a versão dos vencedores, contudo o grande cronista foi capaz de separar esse facto e deixar-nos uma leitura sócio/histórico/antropológico como parecer da sua época.
Também o cronista por vezes demonstra tal como o autor, a sua aparente divergência em alguns casos, isto é, também tinha dúvidas embora optasse pela informação que lhe era mais credível.
Os três momentos da elaboração do seu discurso histórico são o exame do passado através das suas marcas (talvez por as suas marcas serem poucas esqueceu o Terramoto de 1755, na Enciclopédia História de Portugal) é imprescindível que qualquer documento só tem sentido histórico quando inserido no contexto do tempo/homem a que eu acrescentaria o espaço, já que este condiciona a acção do homem e possivelmente, justifica a sua opção. Podemos através da História, interpretar o passado de forma a compreender o presente e a sua relação entre estes dois tempos, encontrando ou confirmando a sua verdade, mesmo em relação aos grandes movimentos colectivos.
A intuição de um historiador necessita para ser credível de um trabalho de análise na investigação efectuada pelos diversos investigadores que ao longo do tempo o antecederam.
Quanto à última face, ou seja, à elaboração do texto final, segundo o autor, este têm de ser rigoroso, objectivo e bem fundamentado, para ser considerado um texto histórico, mas deverá ser claro, comunicativo e sugestivo para o comum dos leitores.
Ainda segundo o autor concluímos que a História não é a realidade, sendo ou não a expressão do seu próprio desejo.
"O homem não vive somente de pão; a História não tinha mesmo pão; ela não se alimentava se não de esqueletos agitados, por uma dança macabra de autómatos. Era necessário descobrir na História uma outra parte. Essa outra coisa, essa outra parte, eram as mentalidades".
"A História procura especificamente ver as transformações pelas quais passaram as sociedades humanas. As transformações são a essência da História; quem olhar para trás, na História de sua própria vida, compreenderá isso facilmente. Nós mudamos constantemente; isso é válido para o indivíduo e também é válido para a sociedade. Nada permanece igual e é através do tempo que se percebe as mudanças".
"A História como registo consiste em três estados, tão habilmente misturados que parecem ser apenas um. O primeiro é o conjunto dos factos. O segundo é a organização dos factos para que formem um padrão coerente. E a terceira é a interpretação dos factos e do padrão".

- Filipa Carvalho

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