27 novembro, 2010

«The Other» - A identidade goesa







Comemoração dos 500 Anos da Conquista de Goa, na Casa de Goa, em 25 de Novembro de 2010, com apresentação do Filme “O Outro” [ “The Other”], realizado por Francisco Veres Machado, entre Novembro de 2006 e Agosto de 2009. Este filme é uma forma de traduzir Goa, e na visão do Autor: “Um bloco de notas filmado”. [Francisco V. Machado]

Apresentação do evento foi feita pelo Professor Narana Coissoró, o Presidente da Casa de Goa:

“Goa tem sofrido diversas formas de jogos, principalmente pelo “jogo” comercial e torna-se uma “mina” pelas suas belezas naturais. (...) Até Boliwood lá assentou arraiais. (...) Goa é Natureza, Terra, Espírito e Povo. (...) Goa não é um Bloco Monolítico. (...) Não há Goa, há “Goas” para cada um de nós. (...)

The Other
Versão inglesa legendada em português

O filme começa com uma visão de quem chega de fora de Goa, uma visão muito próxima do/s objecto/s através da fotografia. E lá vai uma menina tentando fixar pormenores com a sua máquina na mão.

Afastando um pouco a objectiva repara-se na variedade Religiosa e focam-se três símbolos de três religiões diferentes, a Hindu, a Muçulmana e a Cristã, incluindo a Suástica e o OM.

É vista a forma como os próprios Goeses se vêem, como analisam a sua cultura e como se identificam, através da presença portuguesa, mas acima de tudo através da sua Língua e posição como Estado dentro da Índia.

Verifica-se a fertilidade das terras de Goa, tanto pelos seus solos como pela riqueza dos rios.

Os rios foram e são de grande utilidade, como meios de comunicação e regista-se o fantástico porto marítimo.

...“O isolamento político provocou o isolamento geográfico.” [Maria Aurora Couto]

Sossegad – uma expressão usada para definir Goa e os Goeses. São vistos como “ Italianos da Índia”, ou os “ Latinos da Índia”, esta por Rajan Narayan, ou talvez preguiçosos (?) com “maneira antiga de viver”, uma reflexão de Gerson da Cunha.

Refere-se o Turismo, e dele fala-se que começa por acidente, talvez com a Guerra do Vietname ou o fim dela, a vinda dos chamados Hippies na década de sessenta, que por ali passaram e foram transmitindo o quão agradável era a região.

Patrícia Pinto do “Save Goa Movement” refere-se a Goa como um sítio de prazer, Goa como um lugar alternativo.

Coloca-se o zoom da máquina a postos e passamos a objectiva pela Natureza, pela Velha Goa, pela Nova Goa e pelo Povo.

E chegando ao povo a Professora Celina Almeida exprime-se assim: ...” é difícil definir, hoje (ano de) 2007 o que é o Goês.”

Deambulamos junto de várias personalidades, apontamos o nosso instrumento fotográfico e carregamos no botão, disparamos em varias direcções e ficamos com a ideia de que quase se trata aqui de um jogo de adivinhas:

“O que é ser Goês?”

O Goês, no geral, não se consegue definir. Tem ainda atado ao seu pescoço uma cruz que mais parece uma âncora que o puxa para o fundo e para o fundo da mesma questão, mas quando vem á tona, grita que é Goês! Alguns definem, mas não concordam! Estas âncoras dão-lhes o “músculo” e põem-no a funcionar, dialogam, discutem e são cada vez mais fortes. Estão agora assustados, o governo aceita a entrada de qualquer Indiano migrante para Goa e mais, ao fim de quinze anos de permanência concede a identidade Goesa a esses “estranhos”. Os Goeses “verdadeiros” estão a sair de Goa, emigram, procuram outras paragens e há falta de mão-de-obra que atrai os migrantes de outras regiões da Índia para Goa. A região cresce e o aumento habitacional é intenso. A vinda destes migrantes levanta outra questão, haverá uma redefinição de identidade?

Foca-se também questões passadas, mais próximas de nós, pois nunca se anda neste filme perto do tempo de Albuquerque, uma dessas questões remete para a vontade que os estados vizinhos tinham, em assimilar Goa, mas Goa é firme e afinal tem identidade, tem um dialecto/língua (esta questão não fica definida no filme) próprio/a, o Konkani.

Volta-se atrás e Pundalik Naik refere um dos cultos anteriores á chegada do portugueses, estes faziam referência a uma deusa Hindu a quem cantavam certa música. Ele canta-a. Que pena a nossa maquina fotográfica não apanhar estas notas sonoras, e de seguida volta a cantar, mas... algo mudou, foi o nome da deusa, agora é Nossa Senhora de Fátima. E Pundalik afirma: “ Mudaram a religião, mas não mudaram a cultura.”

Faz-se também uma referência ao alfabeto utilizado para escrever a língua Konkani, e percebe-se que existe uma quase exigência para utilizar o alfabeto “romano”. (como é referido no filme)

A vontade dos estados vizinhos quererem absorver Goa passa também por um “braço-de-ferro” entre as línguas ou dialectos, principalmente entre o Marathi e o Konkani.

Depois ouvimos falar português (perfeito, diga-se) pela Sra. Maria Alice Shirsat e refere com muita graça: “Considero o português a minha Língua.” – Pede desculpas e ri-se. Foi um momento diferente.

Mas continua e acrescenta:.”cá fala-se mais a língua dos outros do que a nossa.” Muito Inglês e pouco Konkani.

Agora alguém sugere uma “guerra”, uma guerra aberta contra a globalização. O Goês não quer ser outra coisa e não quer assimilações, está farto, quer ser só Goês! Adianta alguém, “desejamos o fim da selvajaria que é a Globalização.”

O nosso instrumento tecnológico avançadíssimo, mostra agora com um registo em macro, dois pormenores muito concretos: a taxa de literacia em Goa é agora quase 100%, têm cinco canais de televisão local. Estamos perante um enorme desenvolvimento do que se revela ser o “nosso” (Ocidental) modo de ver o mundo.

Agora a politica, não podia faltar. O maior argumento politico usado pelos goeses perante a Índia, é de facto a sua identidade. Respondendo um pouco àquela adivinha, a identidade Goesa passa pelas paisagens de Goa e acima de tudo pela Língua! Conseguiram, são independentes, são um Estado!

O autor do filme revela no fim uma espécie de conclusão que diz o seguinte:

“ E o Goês como se identifica? Aproveita as ideias dos outros, mas nega-as com frequência, assim deixa sempre um vazio de definição...”

Voltámos ao mesmo? Não acredito, penso, que falta ali qualquer coisa... Mas quem sou eu para pensar?

Debate sobre a identidade goesa

O Professor Narana Coissoró:

“ A identidade Goesa não sofre de um problema isolado. Outros grupos de povos também se querem afirmar nesta senda. (e referiu vários povos dentro da própria Índia [não tive tempo para assentar nos apontamentos]) (...) Konkani é a pedra angular da reconstrução de Goa e define também a sua politica (...) o medo da migração existe pelo medo da perda da língua (...) e há sempre uma pergunta que fica, sou ocidental ou Indiano, mas olha-se pra ela sempre pela negativa (...) é do interesse do governo Goês manter Goa independente (...) pode gastar o dinheiro, usar a sua própria economia e ordenar o território da forma que entender, isto é poder (...) há uma forma que só Goa teve para ser independente e foi a forma imaterial, através da língua (...) Konkani como base de independência financeira (...) antes (o Konkani) tinha muitas palavras portuguesas, agora chega a ter frases inteiras em inglês (...) é uma língua que se molda á forma utilizada (...) o desenvolvimento de Goa é provocado pela sua independência (...) “.

Dr. Jason Fernandes (Investigador- Estudante no ISCTE, Lisboa, falou em Inglês [tradução minha]

“A maior parte dos filmes feitos sobre Goa dão uma má imagem, este filme é feito pela positiva, parabéns ao realizador!”

“...os Goeses ainda estão entre a indecisão de serem portugueses ou indianos... mas o facto é que o 25 de Novembro aconteceu, aprendam a viver com ele, ultrapassem-no!!! “

“...penso que ideia de ter uma só identidade é retrógrada (old fashion) ...”

“...qual o Konkani que Goa quer ter? É um debate muito forte agora em Goa.”

E por fim o Dr. Sérgio Mascarenhas (viveu 7anos em Goa como Delegado da Fundação Oriente):

Colocou em paralelo os Filipes de Portugal e Espanha e referiu-se a uma estátua de Filipe II que esteve algures mas foi retirada. Os portugueses ao retirarem a dita estátua negam a presença espanhola em Portugal, os Goeses parecem querer fazer o mesmo em relação a Portugal. Têm tendência para se afastar dessa realidade. Portugal esteve lá, mas já não está!

Refere também uma ideia interessante, de que se o debate sobre a identidade de Goa parasse, Goa desapareceria!

Fala de Goa como uma válvula de escape para as elites Indianas. Sugere Goa como um espaço de liberdade total e ocidentalizado. Estas elites, na sua maioria, frequentaram escolas no Ocidente e aí, em Goa, encontram um local como não há no resto da Índia.

E em conclusão refere que há imensos mal entendidos entre Goeses e Portugueses! Estes mal entendidos acabariam se se levasse mais Portugueses a Goa e se se trouxesse mais Goeses a Portugal!

Para concluir:

Retratei o que observei e ouvi no filme e dos oradores. Tomei alguma liberdade na expressão. Peço que me dêem algum “desconto” em erros que tenha cometido quanto aos nomes e palavras locais que refiro neste trabalho.

Marco Marçal

Documentário «The Other» e a Identidade Goesa em Debate


No dia 25 de Novembro de 2010, quinta-feira, pelas 19h00, realizou-se um evento na Casa de Goa que consistia no visionamento do documentário “The Other” (“O Outro”), filmado entre Dezembro de 2006 e Agosto de 2009, e posterior debate sobre a identidade goesa (principal tema do documentário).

Antes do visionamento do documentário, Leonor Coutinho fez um discurso de abertura aludindo ao nome de Sita Vales, uma goesa morta em Angola, e de seguida, Francisco Veres Machado, realizador do filme, frisa que há 500 anos atrás, Afonso de Albuquerque conquistou Goa, ao derrotar Adil Shah nas margens do rio Mandovi, e por consequência, emergiu a primeira colónia do Império Português que ficaria ligada a Lisboa até Dezembro de 1961.

Para entrarmos no espírito do documentário recita ainda um poema muito conhecido da Mensagem de Fernando Pessoa: A Outra Asa Do Grifo – Afonso de Albuquerque.

Posto isto, deu-se início ao visionamento do documentário, documentário este que mostra Goa como um objecto do jogo político, social, artístico e económico, sendo actualmente muito cobiçada por vários intervenientes pelos mais variados interesses (desde droga, casinos e máfias) e possuindo um elevado nível de criminalidade. Goa é aludida como uma “mina” de recursos naturais.

Conta-nos a sua história, desde os marcos políticos (conquista de Goa em 1510), marcos culturais como a língua, o teatro, as festas, a religião, marcos sociais, sobre as várias características da população e marcos económicos. O documentário representa de determinada maneira a alma das paisagens de um povo (Goa), onde várias culturas passaram por lá (inglesa e portuguesa). O filme contém a visão pessoal do autor (ver, sentir corresponde a uma Goa, pois existem várias Goas, e cada uma corresponde à uma visão).

Após o visionamento, procedeu-se como programado ao debate sobre a identidade goesa, onde os principais oradores foram Narana Coissoró (Presidente da Casa de Goa), Sérgio Mascarenhas (Ex delegado da Fundação Oriente em Goa), Jason Fernandes (Investigador e doutorando no ISCTE) e Francisco Veres Machado (já referido como realizador do documentário)

Começou-se por afirmar que Goa era o 25º distrito da Índia e considerado bastante fértil e cobiçado devido à rede natural de transportes - Rios Mandovi e Zuari. Situa-se entre Maharashtra a norte e Karnataka a leste e sul, na costa do Mar da Arábia, a cerca de 400 km a sul de Bombaim. É o menor dos estados indianos em território e quarto menor em população, e o mais rico em PIB per capita da Índia.

Relativamente à língua, o idioma oficial de Goa é a língua concani. Depois de Portugal deixar de comandar Goa, o concani e a língua marata são os idiomas mais falados no estado. O concani, no estado, é o idioma primordial; depois, surge a língua inglesa e a língua marata que são usadas para propósitos educacionais, oficiais e literários. Outras línguas incluem a língua hindi, a língua portuguesa e a língua canaresa.

Discutiu-se vários pontos do filme como: o orgulho Goês, o “sossegad” (aproveitamento dos tempos livres segundo os Goeses), a caracterização destes como bêbados e preguiçosos, a ideia de que Goa é a terra dos três S’s (Sol, sexo e surf), a Riviera indiana (sitio alternativo romântico com igrejas brancas), a primeira imagem de Goa (os edifícios brancos juntos aos coqueiros – que não existem na Goa islâmica), a tranquilidade do ambiente social, o mar acolhedor, os dois costumes (português e indiano), Tiatr (teatro burlesco goês), a importância do papel da Igreja em Goa, a taxa de literacia ser 100% em Goa, cerca de 6/7 canais de pequena dimensão (pouco desenvolvidos), só transmitirem noticias, Bollywood e a possibilidade ou não de conseguir definir a identidade Goesa.

Este último ponto, foi a base do debate e de todo o filme, sendo basatante discutido, manifestando vários argumentos: existe um paralelo entre a Goa Antiga (da altura dos Portugueses) e a Goa Nova, pois até 1961 fazia-se tudo como em Portugal, a partir daí os costumes e tudo o resto da Índia foi adoptado caminhando para uma nova identidade goesa que pretendia preservar a sua identidade, permanecendo na mesma certas influências a nível de festas religiosas e danças folclóricas.

Devido às migrações de outras regiões para Goa (trabalhadores) e ao aumento turístico caímos na incerteza de quem é goês em Goa, daí os mais variados artistas sensibilizarem quanto à importância histórica de Goa, pois segundo eles Goa está a perder a identidade cultural e histórica.

Em Dezembro de 2006 surge o " Save Goa Movement", devido ao confronto entre a globalização e a cultura regional, sendo Goa considerada especial como identidade e território.

Apesar de várias controvérsias e dos diversos obstáculos à definição da identidade Goesa, concluiu-se que é possível definir a identidade goesa.

Em suma, o documentário alerta-nos para a importância de uma identidade de um povo, neste caso a de Goa, exaltando tudo aquilo que é necessário para a preservação dessa identidade.

Vitor Fuseta



10 novembro, 2010

II Jornadas Aclusianas

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Sob o tema "As Independências das Américas: celebrar para interrogar", realizaram-se no dia 9 de Novembro de 2010 as II Jornadas Aclusianas, uma iniciativa da ACLUS – Associação de Cultura Lusófona, que este ano teve o apoio do Núcleo Lusófono da História da Universidade Lusófona.

O tema visou celebrar o bicentenário da independência do México, Venezuela e Argentina. A sessão foi aberta pelas Sras. Professoras Maria Adelina Amorim, e Olga Iglésias, distinta Presidente do Núcleo Lusófono das História. Como convidado especial, Exmo. Sr. Doutor Fernando Cristóvão, fundador da ACLUS, que comemorava precisamente nesse dia o seu 88.º aniversário.

Entre os oradores contavam os alunos do terceiro ano do Curso de História da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias de Lisboa. As suas comunicações, tiveram como base os seus trabalhos académicos para o Módulo Américas da Cadeira de Descolonizações; América, África e Ásia. De salientar a presença na sala do Sr. Embaixador da República do Paraguai, Don Luiz Fretes Carreras, que felizmente para o orador sobre o Paraguai, só se apresentou no final da sessão.

O programa foi ordenado por ordem cronológica das independências; assim foi o colega Carlos Tavares a Iniciar as apresentações com a Revolução Americana, ao qual se seguiram: Armando Correia (1776), com o Haiti (1804); Anabela Pereira com o México (1810); Elsa Cunha com a Argentina (1810), Vítor Escudero com a Venezuela (1810); Paulo Medeiros com o Paraguai (1811), Deolinda Mendes com o Chile (1818) e Higino Marçal com o Uruguai. Seguiu-se uma comunicação do colega Vítor Escudero, sobre a Falerística no Novo Mundo, igualmente integrado na avaliação da mesma cadeira.

Os trabalhos seriam encerrados pela Sra. Professora Maria Adelina Amorim, com a sua comunicação sobre o Brasil, porém ainda houve temo para a nossa cara colega, Conceição Alves, nos falar sobre a Independência do Perú. No final houve uma alegre confraternização entre os alunos das três turmas do Curso de História, docentes e restante assistência, onde foi servido um excelente beberete, com algumas iguarias tradicionais do nosso país como o Bolo da Boda da Sertã, um delicioso bolo de laranja, vinho do Porto, ou a bem tradicional jeropiga entre outros petiscos.

Mais uma vez, e apesar do grande nervosismo, foi um enorme prazer fazer parte, de mais uma excelente iniciativa do nosso Núcleo Lusófono da História, em Conjunto com a ACLUS e com a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

Paulo Medeiros