16 dezembro, 2008

O que é a História?

- Que Ciência Social hoje?

Todos nos lembramos das histórias de embalar com que a nossa meninice e infância foram rodeadas daquela áurea mágica e mítica que nos transportava a outros tempos de fantasia, sonho e revisitação. A história, o contacto com a História, começa daquela necessidade de que quase todos temos de ouvir as estórias das avós e das tias-avós, à lareira de inverno ou nos finais de tarde de verão em que, longe dos pais, rumávamos a uma província ainda bem característica e típica, dos meados do século passado, naquele misto de descoberta e reeinvenção de um passado comun em que as nossas próprias raízes se confundiam com as matrizes culturais da aldeia, dos nossos vizinhos, dos nossos parentes remotos e dos nossos próprios maiores.

Foi assim que me iniciei na apaixonante descoberta da outra história, a Grande História, aquela História que se desenvolve, prioritariamente, pela actualização constante e contínua das vivências conscientes e racionalizadas do Homem ao nível da evolução cultural, da realidade quotidiana e da reflexão filosófica; e, pela História que, consequentemente, é alicerçada pelas observações, registos, opções, métodos, práticas e investigação e que constitui a Ciência Histórica. Uma ciência que nos ajuda à reconstrução, reflexão e análise do passado, individual, grupal ou social, com base em ideias e práticas convencionadas, para uma uniformização do controle das fontes, das interpretações, das explicações e da estruturação dos argumentos, vistos à luz de um determinado e delimitado período de tempo, objecto de observação.

Em suma, a história estuda o tempo passado. A palavra, sem grandes investigações, vem-nos do grego, ou melhor da língua grega e significa ‘inquérito’…daí que, em muitas ocasiões, se afirme, com alguma propriedade que, tal como o detective, o trabalho primordial do historiador seja a investigação, a examinação de todos os indícios possíveis, sem excepção, tais como monumentos, textos, armas, moedas, roupas, ourivesaria, etc…, tudo quanto possa ajudar a reconstruir a vida do homem num determinado período do nosso passado colectivo.

O termo ‘história’, pode então remeter-nos para três sentidos ou significados, relacionados, mas individualmente distintos: o primeiro é o da abordagem da história, enquanto conjunto de acções e práticas humanas, assumidas por razões e decisões, ocorridas num tempo passado; o segundo é o da sistematização e constituição do conhecimento científico de partes comuns desse grande fresco que é a história como tempo passado, hoje em dia já vulgarmente designada por ciência histórica ou história como ciência; e, como não poderia deixar de ser, o sentido com que caracterizamos o acervo produzido pela ciência histórica, a que damos genericamente o nome de historiografia, seja ela escrita (livros), seja ela visual (filmes e documentários).

Embora não se possa afirmar que a história é uma disciplina recente, bem pelo contrário, a verdade é que a história enquanto Ciência Social, mereceu depois da segunda guerra mundial, um forte impulso e, sobretudo, a historiografia foi alvo de um progresso sublinhado, apenas matizado, pela aparente ausência de uma matriz disciplinar, essencial e determinante ao desenvolvimento global da historiografia como investigação social, independente, auto-suficiente, coerente e coesa.

De facto, no século XX, a história, enquanto ciência, tem dois grandes períodos qualitataivos e quantitativos, em termos de grandes linhas de pensamento, análise, reflexão e produção. Um determinado no tempo pelo período entre as duas guerras, durante as décadas de vinte e de trinta; e o outro, já depois da segunda grande guerra, a partir dos anos cinquenta. Comparativamente, a ciência histórica, evoluiu muito mais no século XX do que no século anterior, podendo-se caracterizar esta evolução pela renovação e redefinição contenporãnea das escolas de observação, sitematização e registo. Contudo a mudança gigantesca e decisiva de mentalidades do séc XIX – com propriedade chamado o ‘século da história’! -, consagra uma nova página do estudo científico da história, permitindo até que a este estudo científico, prestem as suas colaborações outras das grandes linhas das chamadas ciências sociais e ciências auxiliares da história, então emergentes.

Não esquecer que outro factor decisivo, para o salto da história enquento ciência e ao surgimento de abundante historiografia, é o do aparecimento de uma corrente de pensamento que se chamou de positivismo a par da corrente tradicionalista do historicismo alemão.

Mas tudo está ainda em aberto, pois que, como ciência viva, todos os dias, recebemos novas informações que nos ajudam a equacionar cada vez mais de perto e com um olhar mais preciso e acutilante, mais crítico, também, tudo quanto nos é apresentado pelo passado.

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