A partir dos anos setenta, do século XX, as teorias sobre a historiografia atingem um ponto de não retorno, sobre tudo o que se havia dito, escrito ou especulado, durante os últimos três quartéis, desde logo sublinhando o abandono das teses e posições marxistas[1] da história e avançando com uma nova tendência, profundamente marcante e inovadora, no que vai destas três últimas décadas.
Esta nova corrente, ou escola, segue os passos da crítica pós-moderna, assumindo e evidenciando as fragilidades e incongruências das ideias uniformizadoras e estanques dos modelos até então usados.
Assim, não é de estranhar que na historiografia mais recente, um pouco à imagem de outras ciências sociais, como a antropologia e a filosofia, a importância e a influência multidisciplinar da análise da linguagem e da escrita e a relevância da diversidade cultural matizem as grandes linhas de pensamento, de acção, de investigação e de fazer uma nova história.
O novo discurso historiográfico, em consonância, com a heterogeneidade da nova corrente de pensamento, permite novos olhares, novas perspectivas, novas análises e novas reflexões. Permite construir e desconstruir, na base de uma teoria da própria linguagem e da sua representação, enfocando a não diferenciação entre a realidade e a linguagem.
Mais, a pertinência objectiva da história, em plena época da globalização, com excesso de fontes e dados, informações em real time e profusão de pontos de vista, sempre disponíveis e à mão do investigador, leva-nos a uma incessante busca da verdade, em detrimento das descobertas.
Não é pois de estranhar que a super especialização, também ao nível da historiografia, deixe marcas…daí que tenham surgido, a microhistória e a nova história. Novas páginas, consagradas pela “ciência história sócio-cultural”, tese e expressão divulgadas pelos trabalhos de Christopher Lloyd (1996), que contemplam uma assunção da História como ciência e arte “integradora dos factores de constituição da identidade subjectiva e objectiva dos agentes racionais humanos, individual e colectivamente” [2].
Em Portugal, paradigma do pensador e do investigador desta nova corrente, o Professor José Mattoso, brindou-nos com alguns dos textos teorizantes, mais felizes e acessíveis, talvez por serem dirigidos a não historiadores [3].
Desde logo, porque defende a prática da lógica, para a efectiva produção de um discurso rigoroso, consistente e coerente e adopta de forma simplificada ou simplista a conceptualização das outras ciências sociais e humanas como referência para as suas próprias investigações, sem grandes divagações pelo aprofundamento filosófico dessas mesmas noções conceptuais.
Segundo José Mattoso, para a elaboração do discurso histórico há que ter presente três etapas decisivas: a leitura e exame racional do passado, através das fontes ou marcas; a representação mental que daí resulta; e, a produção de um texto, escrito ou oral, que permite emitir uma comunicação com os demais.
Na primeira etapa, há que haver contenção e uma selecção, tendo em atenção a relatividade, a globalidade e a contemplação, pois muitas vezes o “objecto da História não é o facto em si mesmo, mas o que ele eventualmente possa representar para o destino da Humanidade”. É, ainda, Mattoso, quem nos aconselha a um olhar “mais atento, mais lúcido e mais apaixonado” e, acrescenta… “muita atenção e muita imaginação para não esquecer todos os factores que interferem na História”.
Na segunda fase, há que verbalizar um reconhecimento, admirativo e emotivo, uma apreensão harmónica do real, uma comunhão total da ordem estabelecida na vastidão da acção e pensamento humanos.
Na terceira e última etapa, importa o veículo entre a emissão e a recepção, interessa a comunicação. E, essa comunicação, a par do seu conteúdo científico, tem que ser escrita de forma apaixonada, poética, literária, pois só assim, pode descrever essa ordem encontrada e essa grandeza e fascínio do passado.
Mas, em jeito de conclusão, sobre a verdade da história e a escrita da história, José Mattoso, faz sublinhar que, independentemente do papel importante e decisivo do historiador e da historiografia, a verdadeira pedra de toque de todo o processo da revelação e da transcendência da realidade da história é o momento mágico e irrepetível em que cada um de nós é tocado pela história, o que muitas vezes passa, pelo próprio silêncio e ausência de indicadores exteriores, bastando-nos, a nossa própria sensibilidade, a nossa íntima convicção, a nossa emoção, a nossa contemplação, a nossa própria capacidade de olhar, de observar e ver e a nossa própria maneira de estar e de ser agentes da História.
Esta nova corrente, ou escola, segue os passos da crítica pós-moderna, assumindo e evidenciando as fragilidades e incongruências das ideias uniformizadoras e estanques dos modelos até então usados.
Assim, não é de estranhar que na historiografia mais recente, um pouco à imagem de outras ciências sociais, como a antropologia e a filosofia, a importância e a influência multidisciplinar da análise da linguagem e da escrita e a relevância da diversidade cultural matizem as grandes linhas de pensamento, de acção, de investigação e de fazer uma nova história.
O novo discurso historiográfico, em consonância, com a heterogeneidade da nova corrente de pensamento, permite novos olhares, novas perspectivas, novas análises e novas reflexões. Permite construir e desconstruir, na base de uma teoria da própria linguagem e da sua representação, enfocando a não diferenciação entre a realidade e a linguagem.
Mais, a pertinência objectiva da história, em plena época da globalização, com excesso de fontes e dados, informações em real time e profusão de pontos de vista, sempre disponíveis e à mão do investigador, leva-nos a uma incessante busca da verdade, em detrimento das descobertas.
Não é pois de estranhar que a super especialização, também ao nível da historiografia, deixe marcas…daí que tenham surgido, a microhistória e a nova história. Novas páginas, consagradas pela “ciência história sócio-cultural”, tese e expressão divulgadas pelos trabalhos de Christopher Lloyd (1996), que contemplam uma assunção da História como ciência e arte “integradora dos factores de constituição da identidade subjectiva e objectiva dos agentes racionais humanos, individual e colectivamente” [2].
Em Portugal, paradigma do pensador e do investigador desta nova corrente, o Professor José Mattoso, brindou-nos com alguns dos textos teorizantes, mais felizes e acessíveis, talvez por serem dirigidos a não historiadores [3].
Desde logo, porque defende a prática da lógica, para a efectiva produção de um discurso rigoroso, consistente e coerente e adopta de forma simplificada ou simplista a conceptualização das outras ciências sociais e humanas como referência para as suas próprias investigações, sem grandes divagações pelo aprofundamento filosófico dessas mesmas noções conceptuais.
Segundo José Mattoso, para a elaboração do discurso histórico há que ter presente três etapas decisivas: a leitura e exame racional do passado, através das fontes ou marcas; a representação mental que daí resulta; e, a produção de um texto, escrito ou oral, que permite emitir uma comunicação com os demais.
Na primeira etapa, há que haver contenção e uma selecção, tendo em atenção a relatividade, a globalidade e a contemplação, pois muitas vezes o “objecto da História não é o facto em si mesmo, mas o que ele eventualmente possa representar para o destino da Humanidade”. É, ainda, Mattoso, quem nos aconselha a um olhar “mais atento, mais lúcido e mais apaixonado” e, acrescenta… “muita atenção e muita imaginação para não esquecer todos os factores que interferem na História”.
Na segunda fase, há que verbalizar um reconhecimento, admirativo e emotivo, uma apreensão harmónica do real, uma comunhão total da ordem estabelecida na vastidão da acção e pensamento humanos.
Na terceira e última etapa, importa o veículo entre a emissão e a recepção, interessa a comunicação. E, essa comunicação, a par do seu conteúdo científico, tem que ser escrita de forma apaixonada, poética, literária, pois só assim, pode descrever essa ordem encontrada e essa grandeza e fascínio do passado.
Mas, em jeito de conclusão, sobre a verdade da história e a escrita da história, José Mattoso, faz sublinhar que, independentemente do papel importante e decisivo do historiador e da historiografia, a verdadeira pedra de toque de todo o processo da revelação e da transcendência da realidade da história é o momento mágico e irrepetível em que cada um de nós é tocado pela história, o que muitas vezes passa, pelo próprio silêncio e ausência de indicadores exteriores, bastando-nos, a nossa própria sensibilidade, a nossa íntima convicção, a nossa emoção, a nossa contemplação, a nossa própria capacidade de olhar, de observar e ver e a nossa própria maneira de estar e de ser agentes da História.
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[1] Rezende Martins, Estevão de, “História”, Crítica:Revista de Filosofia e Ensino, Universidade de Brasília, 30 de Agosto de 2004.
[2] Idem.
[3] Mattoso, José, “A Escrita da História”, Conferência realizada na Faculdade de Ciências e Tecnologia da universidade Nova de Lisboa, 22 de Outubro de 1986.
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