D. Nuno Álvares Pereira, um Homem do seu tempo, mas também um Homem dos Tempos que fez futuro imediato e mais remoto ou longínquo, foi sempre uma daquelas personagens e uma daquelas figuras da História de Portugal com quem mais o Povo se identificou e se reviu como num espelho de antagonismos e contradições.
Herói desde sempre, casto e desprendido, “alma mater” do Portuguesismo, dele fala o nosso cronista e historiador Fernão Lopes com emoção, empolgamento e a profetização de uma História que jamais será a mesma depois de D. Nuno Álvares Pereira.
As crónicas daqueles idos dão-nos este Militar e Santo, este Homem simples capaz de grandes gestos e eloquentes feitos como um contra –retrato de D. João I. Este enquanto Mestre de Avis, frade da Ordem de que era mestre, com votos e tudo, é o retrato do anti-herói. Um anti-herói…mas, carismático! Não nasceu herói; fez-se! Não nasceu Rei; aprendeu! Fica dele a imagem de um ser inteligente com uma auréola de vencedor ante as adversidades e as circunstâncias.
Herói e Santo chama o Povo a D. Nuno Álvares Pereira, desde sempre e ainda hoje, com carinho e veneração. Figura mitificada, aguarda um biógrafo sereno e competente que o restitua à sua época e o enquadre no cenário real e ao mesmo tempo romanceado, fruto do imaginário colectivo, das “estórias” de Cavaleiros, de Camelot e do Santo Graal.
Para se conhecer bem o personagem, para bem se avaliar a sua gesta, importa ler nas entrelinhas das crónicas da época, importa descobrir os traços do seu carácter, importa adivinhar as suas motivações e, para lá da história oficial, importa conhecer factualmente e ao pormenor a realidade nua dos seus feitos.
Só assim e com isenção, e se tal investigação for possível, nos será possível ficar a saber a verdadeira dimensão e a genuinidade da aura que se lhe atribuiu e atribui – o de ter uma grandeza cavalheiresca digna de ímpar memória e exemplaridade; um incondicional patriotismo e uma devotada fidelidade ao Rei!
Em opinião muito pessoal, a D. Nuno Álvares Pereira se deve a fundação de Portugal, enquanto estado-nação, nobremente e orgulhosamente independente e em Paz com os reinos visinhos.
Fogoso Condestável do Reino, D. Nuno Álvares Pereira, impõe pelas ameaças de violência bélica as razões do jurista João das Regras e, nas Cortes de Coimbra, em 1385, consegue eleger o novo monarca D. João I. Esta não será a sua primeira, única e última grande acção em defesa, dignificação e prestigiação do conceito de um Portugal uno, indivisível, independente e em Paz!
Também na credibilização e na salvaguarda da legitimidade do seu Soberano e da nova Dinastia de Avis, D. Nuno Álvares Pereira tem um papel relevante senão fundamental na tão necessária quanto eloquente e conveniente diplomacia internacional, nomeadamente, junto da Cúria Papal em Roma.
E, que dizer da brava e decisiva condução de homens em armas, na batalha de Aljubarrota, a 14 de Agosto de 1385. Ao lado do seu Rei, o Condestável do Reino conseguiu uma vitória tão redonda e imprevista, ante as numerosas tropas do rei de Castela, que logo ali se falou de “miraculado servidor do Senhor”.
Falar do rei de “Boa Memória” é falar do seu leal, fíel e destemido Condestável! Cara e coroa da mesma moeda D. João I e D. Nuno Álvares Pereira são os grandes artífices de um Portugal moderno, onde ambos conseguem em comum a superação do caos instalado no tempo da revolução; a imposição da autoridade monárquica sobre o clero, a nobreza e os concelhos; a instauração do prestígio real e da legitimidade da Dinastia de Aviz; a independência e a soberania ante os eventuais direitos de Castela; o reconhecimento da Santa Sé e dos estados soberanos da velha europa; e, com a tomada de Ceuta…o início do sonho de grandeza e de expansionismo humanista em defesa e propagação da Fé que constituiu a epopeia ultramarina!
Desde a Batalha de Atoleiros, junto à vila alentejana de Fronteira, em 6 de Abril de 1384 – a primeira pequena grande vitória do então capitão de uma mal equipada e mal treinada hoste de camponeses – até à sua morte, ocorrida no Convento do Carmo, em Lisboa, a 1 de Novembro de 1431 (dois anos antes do falecimento de D. João I), o glorioso condestável acumulou riqueza, terras, títulos e através de sua única filha D. Beatriz casada com D. Afonso, filho bastardo do rei, consegue fazer nascer a mais rica Casa Senhorial do Reino.
Depois deste casamento, onde prova também a sua sagacidade e astúcia, guarda para si os títulos de Conde de Ourém e de Conde de Arraiolos durante uns tempos, mas antes de se retirar e dedicar por completo à vida monástica abdica dos bens materiais.
Cansado das honras deste mundo, distribuiu os seus numerosos bens por cavaleiros, escudeiros e criados de sua Casa e pelos pobres de Lisboa. Deu tudo: ouro, prata, armas, jóias, roupas, pão, azeite, dinheiro e futuras rendas. As terras repartiu-as pelos seus três netos: D. Isabel, casada com o Infante D. João; D. Afonso, Conde de Ourém e Marquês de Valença; e, D. Fernando, Conde Arraiolos.
Quando recolhe ao lisboeta Convento do Carmo, dizem as crónicas, apenas ter de seu uma samarra de pano de Gales. Os últimos anos vive-os em total recolhimento não como monge mas como pobre e penitente recolhido por caridade.
D. João I, fruto da devoção popular e da fama dos seus feitos, projectou submeter a Roma a causa da beatificação de Frei Nuno de Santa Maria. Muitos anos haviam de passar, até que Sua Santidade o Papa Bento XV, já em pleno século XX, o elevaria aos altares, concedendo-lhe a dignidade de beato… o Beato Nuno de Santa Maria.
Hoje, sabemos, que a postulação para a sua canonização, se encontra em fase final na Congregação para a Causa dos Santos, da Santa Sé, em Roma.
Em breve teremos a boa nova de um novo Santo português, o primeiro Santo português do século XXI: D. Nuno Álvares Pereira, São Nuno de Santa Maria, o Santo Condestável!
Herói desde sempre, casto e desprendido, “alma mater” do Portuguesismo, dele fala o nosso cronista e historiador Fernão Lopes com emoção, empolgamento e a profetização de uma História que jamais será a mesma depois de D. Nuno Álvares Pereira.
As crónicas daqueles idos dão-nos este Militar e Santo, este Homem simples capaz de grandes gestos e eloquentes feitos como um contra –retrato de D. João I. Este enquanto Mestre de Avis, frade da Ordem de que era mestre, com votos e tudo, é o retrato do anti-herói. Um anti-herói…mas, carismático! Não nasceu herói; fez-se! Não nasceu Rei; aprendeu! Fica dele a imagem de um ser inteligente com uma auréola de vencedor ante as adversidades e as circunstâncias.
Herói e Santo chama o Povo a D. Nuno Álvares Pereira, desde sempre e ainda hoje, com carinho e veneração. Figura mitificada, aguarda um biógrafo sereno e competente que o restitua à sua época e o enquadre no cenário real e ao mesmo tempo romanceado, fruto do imaginário colectivo, das “estórias” de Cavaleiros, de Camelot e do Santo Graal.
Para se conhecer bem o personagem, para bem se avaliar a sua gesta, importa ler nas entrelinhas das crónicas da época, importa descobrir os traços do seu carácter, importa adivinhar as suas motivações e, para lá da história oficial, importa conhecer factualmente e ao pormenor a realidade nua dos seus feitos.
Só assim e com isenção, e se tal investigação for possível, nos será possível ficar a saber a verdadeira dimensão e a genuinidade da aura que se lhe atribuiu e atribui – o de ter uma grandeza cavalheiresca digna de ímpar memória e exemplaridade; um incondicional patriotismo e uma devotada fidelidade ao Rei!
Em opinião muito pessoal, a D. Nuno Álvares Pereira se deve a fundação de Portugal, enquanto estado-nação, nobremente e orgulhosamente independente e em Paz com os reinos visinhos.
Fogoso Condestável do Reino, D. Nuno Álvares Pereira, impõe pelas ameaças de violência bélica as razões do jurista João das Regras e, nas Cortes de Coimbra, em 1385, consegue eleger o novo monarca D. João I. Esta não será a sua primeira, única e última grande acção em defesa, dignificação e prestigiação do conceito de um Portugal uno, indivisível, independente e em Paz!
Também na credibilização e na salvaguarda da legitimidade do seu Soberano e da nova Dinastia de Avis, D. Nuno Álvares Pereira tem um papel relevante senão fundamental na tão necessária quanto eloquente e conveniente diplomacia internacional, nomeadamente, junto da Cúria Papal em Roma.
E, que dizer da brava e decisiva condução de homens em armas, na batalha de Aljubarrota, a 14 de Agosto de 1385. Ao lado do seu Rei, o Condestável do Reino conseguiu uma vitória tão redonda e imprevista, ante as numerosas tropas do rei de Castela, que logo ali se falou de “miraculado servidor do Senhor”.
Falar do rei de “Boa Memória” é falar do seu leal, fíel e destemido Condestável! Cara e coroa da mesma moeda D. João I e D. Nuno Álvares Pereira são os grandes artífices de um Portugal moderno, onde ambos conseguem em comum a superação do caos instalado no tempo da revolução; a imposição da autoridade monárquica sobre o clero, a nobreza e os concelhos; a instauração do prestígio real e da legitimidade da Dinastia de Aviz; a independência e a soberania ante os eventuais direitos de Castela; o reconhecimento da Santa Sé e dos estados soberanos da velha europa; e, com a tomada de Ceuta…o início do sonho de grandeza e de expansionismo humanista em defesa e propagação da Fé que constituiu a epopeia ultramarina!
Desde a Batalha de Atoleiros, junto à vila alentejana de Fronteira, em 6 de Abril de 1384 – a primeira pequena grande vitória do então capitão de uma mal equipada e mal treinada hoste de camponeses – até à sua morte, ocorrida no Convento do Carmo, em Lisboa, a 1 de Novembro de 1431 (dois anos antes do falecimento de D. João I), o glorioso condestável acumulou riqueza, terras, títulos e através de sua única filha D. Beatriz casada com D. Afonso, filho bastardo do rei, consegue fazer nascer a mais rica Casa Senhorial do Reino.
Depois deste casamento, onde prova também a sua sagacidade e astúcia, guarda para si os títulos de Conde de Ourém e de Conde de Arraiolos durante uns tempos, mas antes de se retirar e dedicar por completo à vida monástica abdica dos bens materiais.
Cansado das honras deste mundo, distribuiu os seus numerosos bens por cavaleiros, escudeiros e criados de sua Casa e pelos pobres de Lisboa. Deu tudo: ouro, prata, armas, jóias, roupas, pão, azeite, dinheiro e futuras rendas. As terras repartiu-as pelos seus três netos: D. Isabel, casada com o Infante D. João; D. Afonso, Conde de Ourém e Marquês de Valença; e, D. Fernando, Conde Arraiolos.
Quando recolhe ao lisboeta Convento do Carmo, dizem as crónicas, apenas ter de seu uma samarra de pano de Gales. Os últimos anos vive-os em total recolhimento não como monge mas como pobre e penitente recolhido por caridade.
D. João I, fruto da devoção popular e da fama dos seus feitos, projectou submeter a Roma a causa da beatificação de Frei Nuno de Santa Maria. Muitos anos haviam de passar, até que Sua Santidade o Papa Bento XV, já em pleno século XX, o elevaria aos altares, concedendo-lhe a dignidade de beato… o Beato Nuno de Santa Maria.
Hoje, sabemos, que a postulação para a sua canonização, se encontra em fase final na Congregação para a Causa dos Santos, da Santa Sé, em Roma.
Em breve teremos a boa nova de um novo Santo português, o primeiro Santo português do século XXI: D. Nuno Álvares Pereira, São Nuno de Santa Maria, o Santo Condestável!
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Biografia
ALMEIDA, Fortunato de, “Santos e Varões Piedosos – D. Nuno Álvares Pereira”, in “História da Igreja em Portugal” ( I volume ), Preparada e Dirigida por Damião Peres, Porto, Portucalense Editora, 1967.
DUQUE DE BRAGANÇA, S.A.R. Dom Duarte, “D. Nuno Álvares Pereira, Cavaleiro e Santo, Peregrino a Santiago ( 1365 – 1431 )”, Santiago de Compostela, Xunta de Galicia, 2004.
DUQUE DE BRAGANÇA, S.A.R. Dom Duarte, “D. Nuno Álvares Pereira – Um Santo Para o Nosso Tempo”, Lisboa, Fundação D. Manuel II, 2003.
ESCUDERO, Vítor, “D. Nuno Álvares Pereira – ‘Alma Mater’ do Portuguesismo”, Conferência, Roma, Palazo Ferrajoli, 2003.
MATTOSO, José, “ A Monarquia Feudal ( 1096 – 1480 )”, in “História de Portugal” ( II volume ), Direcção e Coordenação de José Mattoso, Lisboa, Editorial Estampa, 1993.
MATTOSO, José, “ Pereira, Nuno Álvares”, in “Dicionário Enciclopédico da História de Portugal” ( II volume ), Coordenação de José Costa Pereira, Lisboa, Publicações Alfa, 1985 e 1991.
OLIVEIRA MARTINS, J. P. , “D. Nuno Álvares Pereira – A Vida de Nun’Álvares”, in “História de Portugal” ( XXIV volume ), Coordenação de José Hermano Saraiva, Matosinhos, Quidnovi, 2004.
PERES, Damião, “História de Portugal” ( III volume ), Barcelos, Portucalense Editora, 1931.
SARAIVA, José Hermano / GUERRA, Maria Luísa, “Da Fundação aos Lusíadas”, in “Diário da História de Portugal” ( I volume ), Lisboa, Difusão Cultural, 1992.
ALMEIDA, Fortunato de, “Santos e Varões Piedosos – D. Nuno Álvares Pereira”, in “História da Igreja em Portugal” ( I volume ), Preparada e Dirigida por Damião Peres, Porto, Portucalense Editora, 1967.
DUQUE DE BRAGANÇA, S.A.R. Dom Duarte, “D. Nuno Álvares Pereira, Cavaleiro e Santo, Peregrino a Santiago ( 1365 – 1431 )”, Santiago de Compostela, Xunta de Galicia, 2004.
DUQUE DE BRAGANÇA, S.A.R. Dom Duarte, “D. Nuno Álvares Pereira – Um Santo Para o Nosso Tempo”, Lisboa, Fundação D. Manuel II, 2003.
ESCUDERO, Vítor, “D. Nuno Álvares Pereira – ‘Alma Mater’ do Portuguesismo”, Conferência, Roma, Palazo Ferrajoli, 2003.
MATTOSO, José, “ A Monarquia Feudal ( 1096 – 1480 )”, in “História de Portugal” ( II volume ), Direcção e Coordenação de José Mattoso, Lisboa, Editorial Estampa, 1993.
MATTOSO, José, “ Pereira, Nuno Álvares”, in “Dicionário Enciclopédico da História de Portugal” ( II volume ), Coordenação de José Costa Pereira, Lisboa, Publicações Alfa, 1985 e 1991.
OLIVEIRA MARTINS, J. P. , “D. Nuno Álvares Pereira – A Vida de Nun’Álvares”, in “História de Portugal” ( XXIV volume ), Coordenação de José Hermano Saraiva, Matosinhos, Quidnovi, 2004.
PERES, Damião, “História de Portugal” ( III volume ), Barcelos, Portucalense Editora, 1931.
SARAIVA, José Hermano / GUERRA, Maria Luísa, “Da Fundação aos Lusíadas”, in “Diário da História de Portugal” ( I volume ), Lisboa, Difusão Cultural, 1992.
4 comentários:
Quero deixar aqui um aviso do celebrado historiador Luis de Albuquerque: «Temos de encarar esta verdade de um modo corajoso e decidido, reconhecer que a culpa da situação nos cabe na maior parte senão inteiramente a nós, portugueses, por continuarmos a teimar no erro crasso de criar "factor históricos" sem alicerces documentais sérios e completos, em vez de se desenvolver um trabalho aprofundado para erradicar de vez interpretações sem a mínima verosimilhança e deixar cair no lixo todos os sonhos irresponsáveis com que se quer fraudulentamente alimentar e fortalecer um acrisolado amor pátrio de gente crédula.»
No comentário anterior favor ler "factos históricos" em vez de "factor históricos".
Obrigado, Vítor. Nunca li tanto sobre o D. Nuno como hoje, confesso.
Tenho uma relação muito especial e exótica (pra não dizer outra coisa) com a história, também confesso. Ela entrou no meu mundo porque tinha que entrar e eu no dela porque tinha que ser. Eu gosto dela, mas uso-a de modo estranho. Digamos que somos casados, não nos tratamos como marido e mulher, antes como amantes, na cama, o que faz de nós um casal muito incompleto e inconstante.
Abraço
Quero aqui deixar o meu sincero agradecimento ao autor deste artigo e ao meu amigo Pedro Araújo por me ter convidado a consultar este "blogue".
Sou quase analfabeto sobre a História e, talvez por isso, quando entrei neste "blogue" para ler o artigo sobre terrorismo, publicado pelo Pedro Araújo, julguei que após essa leitura nenhum outro artigo seria do meu interesse. Contudo, por curiosidade dei-me a ler este artigo sobre Nuno Álvares Pereira. Gostei, aprendi e desafio aqueles que se interessam e estudam História, para aprofundarem estes temas e os divulgarem quando tenham certezas históricas. Mais uma vez o meu bem-haja ao autor deste artigo,
José Pedro Leal Araújo-Alves
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