Meu caro Ramdas
O que eu acho estranho é esta preocupação tão grande com Israel!
É certo que a ideia peregrina de exportar a democracia ocidental para países que não têm inserido esse conceito na sua cultura seria um exercício de futilidade se não fossem os milhares de soldados ocidentais que já morreram (é bom que não o esqueçamos antes de começar a bater no Ocidente) quer no Iraque quer no Afeganistão.
A região do Médio Oriente sempre se caracterizou por uma rivalidade intensa entre povos, clãs, grupos religiosos, etc., etc., desde os tempos mais remotos. Por exemplo, a causa principal que proporcionou a vitória fulgurante das Cruzadas numa primeira fase, foi exactamente a rivalidade interna entre os povos muçulmanos, que, conforme as suas conveniências, ora se aliavam com os Francos ora os combatiam; só venceram quando formaram uma frente unida. Actualmente está em risco a eclosão de uma guerra civil não entre os americanos e/ou israelitas capitalistas e exploradores e as massas humildes (como refere), mas entre xiitas e sunitas, com toda a instabilidade que isso implica para a região já que todos os países da área têm componentes de ambos os grupos religiosos nas suas populações. E não me preocupam apenas os eventuais cortes na produção petrolífera daí resultantes (os quais, para a economia portuguesa, serão sempre fonte de angústia), mas encaro com muito maior apreensão o desastre humanitário que certamente advirá de mais uma guerra religiosa. E não me vão convencer que a culpa é de Bush ou dos Judeus.
Por outro lado, continua-se a bater em Israel, como se a culpa de todos os infortúnios dos muçulmanos se resumisse à acção israelita. Há que não esquecer que a actividade dos grupos radicais (Hamas, Hizballah, Jihad Islâmica, e quejandos) contribui em larga medida para a violência que todos os dias assola o Líbano, a Palestina, a Faixa de Gaza, etc., etc. É fácil indignarmo-nos com as vítimas civis que surgem a cada raid israelita, esquecendo, porém, que não se trata de uma guerra convencional com exércitos perfeitamente alinhados e objectivos militares perfeitamente definidos; trata-se outrossim de uma guerra de guerrilha urbana em que os radicais árabes (os guerrilheiros, para os mais distraídos) não têm problemas em lançar os seus mísseis a partir de zonas residenciais, sabendo perfeitamente que a retaliação israelita que visará a sua destruição vai atingir gente inocente. Também é certo que, se não têm problemas de consciência em atacar indiscriminadamente quando lançam os seus mísseis ou fazem detonar as suas bombas (não me lembro, por exemplo, de igual indignação por parte das mentes caridosas que actualmente condenam Israel se ter verificado quando os bombistas suicidas se fizeram explodir em autocarros cheios de gente em Tel Aviv), também não os terão em utilizar os seus conterrâneos como escudos humanos.
O problema de fundo do Médio Oriente tem que ver com a rápida modernização económica trazida pela globalização (que quer queiramos quer não, veio para ficar) que transformou completamente a vida dos povos. Como sempre acontece quando se verificam mudanças de fundo na sociedade, há resistências; as pessoas não gostam de ver uma transformação repentina e radical do seu modo de vida, fazendo com que, de uma assentada, saiam da Idade Média e entrem numa modernidade em tudo diferente daquilo que conhecem, deixando-as sem pontos de referência. Refugiam-se por isso naquilo que lhes é familiar: a religião. Isso é aproveitado por clérigos de vistas curtas e com os mesmos problemas de adaptação (agravados pelo receio de perca de poder), que facilmente conseguem inflamar os ânimos e tirar partido da frustração alimentando-a com um bode expiatório: o Ocidente em geral e Israel em particular. É uma fórmula de resultados comprovados que tem sido muito usada ao longo da História e da qual são exemplos infames Hitler e Estaline, entre muitos outros. A modernidade talvez não seja equivalente à criação do paraíso sobre a terra, mas é certamente muito mais justa que os sistemas baseados numa visão "ao pé da letra" de textos religiosos escritos há milhares de anos quando a vida era substancialmente diferente e que, de modo geral, tudo permitem ao homem e tudo negam à mulher.
Também no Ocidente teríamos esse problema se não tivesse ocorrido a Revolução Francesa, que, mau grado os seus excessos, propagou a separação entre Igreja e Estado, cortando cerce e violentamente o ascendente da primeira sobre a sociedade. Aquilo que actualmente vislumbramos é só uma pálida imagem do poder que a Santa Sé detinha nesses recuados tempos. Ainda assim, será útil atentar nos discursos de Bento XVI que não apenas contrastam de forma flagrante com o ecumenismo promovido por João Paulo II, como reflectem essa visão exclusivamente teológica (roçando o fanatismo) do mundo.
Por tudo isto, penso que já é tempo de deixar de bater em Israel e dar alguns puxões de orelhas nos radicais árabes.
11 dezembro, 2006
17 novembro, 2006
De novo... Bush!
Ora bem, ora bem! Já estava a ficar preocupado!
Vamos então novamente falar do sr. Bush.
Posso estar em erro mas não me lembro de nenhum outro presidente americano na história recente do país que tenha suscitado tantas e tão veementes opiniões.
Já aqui referi que, na minha humilde opinião (que vale aquilo que vale), considero este senhor um bronco que, por via das complexidades do sistema eleitoral americano, acabou por se tornar líder daquela que é, quer se queira quer não, a única megapotência mundial.
Com tudo o que de bom e de mau advém dessa posição.
Infelizmente têm sido mais as coisas más que as coiss boas. Esta ideia peregrina de exportar a democracia ocidental para países que desconhecem por completo o próprio conceito de democracia só podia dar raia.
Claro que com tanta atenção dada à ingerência exterior descurou-se o aspecto interno, como ficou comprovado com a titubeante reacção de socorro às populações afectadas pelo Katrina.
Como dizia Churchill: «Pode sempre contar-se com os americanos para fazerem a coisa certa... depois de terem tentado tudo o resto.»
E depois há ainda e sempre o Médio Oriente.
Registou-se mais uma ofensiva israelita, consequente de mais uma chuva de rockets sobre o seu território, e mais uma vez toda a gente se indignou por terem morrido mais alguns civis. Por acaso gostava que me explicassem como é que se podem distinguir civis não combatentes de civis que o são na realidade, porque os rockets partem de zonas habitacionais e não de quartéis militares devidamente identificados.
Uma solução seria talvez pedir educadamente que pusesse o braço no ar quem pertencesse ao Hizballah, ao Hamas, à Jihad Islâmica ou a qualquer outro grupo radical, afastar esses indivíduos aplicando-lhes um severo puxão de orelhas e mandar os outros à sua vida com um pedido formal de desculpas pelo incómodo. Penso que só então o anti-judaísmo ocidental teria condições de perdoar a existência de Israel.
Vamos então novamente falar do sr. Bush.
Posso estar em erro mas não me lembro de nenhum outro presidente americano na história recente do país que tenha suscitado tantas e tão veementes opiniões.
Já aqui referi que, na minha humilde opinião (que vale aquilo que vale), considero este senhor um bronco que, por via das complexidades do sistema eleitoral americano, acabou por se tornar líder daquela que é, quer se queira quer não, a única megapotência mundial.
Com tudo o que de bom e de mau advém dessa posição.
Infelizmente têm sido mais as coisas más que as coiss boas. Esta ideia peregrina de exportar a democracia ocidental para países que desconhecem por completo o próprio conceito de democracia só podia dar raia.
Claro que com tanta atenção dada à ingerência exterior descurou-se o aspecto interno, como ficou comprovado com a titubeante reacção de socorro às populações afectadas pelo Katrina.
Como dizia Churchill: «Pode sempre contar-se com os americanos para fazerem a coisa certa... depois de terem tentado tudo o resto.»
E depois há ainda e sempre o Médio Oriente.
Registou-se mais uma ofensiva israelita, consequente de mais uma chuva de rockets sobre o seu território, e mais uma vez toda a gente se indignou por terem morrido mais alguns civis. Por acaso gostava que me explicassem como é que se podem distinguir civis não combatentes de civis que o são na realidade, porque os rockets partem de zonas habitacionais e não de quartéis militares devidamente identificados.
Uma solução seria talvez pedir educadamente que pusesse o braço no ar quem pertencesse ao Hizballah, ao Hamas, à Jihad Islâmica ou a qualquer outro grupo radical, afastar esses indivíduos aplicando-lhes um severo puxão de orelhas e mandar os outros à sua vida com um pedido formal de desculpas pelo incómodo. Penso que só então o anti-judaísmo ocidental teria condições de perdoar a existência de Israel.
06 novembro, 2006
Será mesmo o fim?
É uma pergunta pertinente, uma vez que parece que tenho estado para aqui a falar, ou melhor, a escrever para as paredes.
Será que se cansaram todos de tratar a História de modo informal?
Será que ninguém tem opinião sobre os acontecimentos mundiais? Ou sobre outra coisa qualquer?
Estarão todos demasiado ocupados até para comentar um post?
Como de costume, o que começou com enorme pujança foi aos poucos perdendo o ímpeto inicial, até que fatalmente acabará por desaparecer.
É mesmo isso que querem?
Será que se cansaram todos de tratar a História de modo informal?
Será que ninguém tem opinião sobre os acontecimentos mundiais? Ou sobre outra coisa qualquer?
Estarão todos demasiado ocupados até para comentar um post?
Como de costume, o que começou com enorme pujança foi aos poucos perdendo o ímpeto inicial, até que fatalmente acabará por desaparecer.
É mesmo isso que querem?
22 setembro, 2006
Mais uma vez o Islão
Depois dos cartoons de Maomé eis que o Islão foi novamente ofendido.
O Papa Bento XVI, quiçá intencionalmente, citou um diálogo ocorrido no séc. XII entre o imperador bizantino e um convidado persa em que o primeiro condenava o facto de Maomé propagar a fé através da espada, usando esse diálogo para ilustrar a situação actual.
Vamos por partes.
Sem dúvida que o Islão é uma religião de paz.
Sem dúvida que o Cristianismo também o é.
Sem dúvida que os radicais islâmicos massacram gente inocente em nome dessa mesma religião de paz.
Sem dúvida que os radicais cristãos também o fizeram e ainda fazem.
Se até aqui estão ao mesmo nível, cristãos e muçulmanos diferem num ponto essencial: os primeiros, graças à secularização da sociedade consequente da Revolução Francesa, conseguem ter a abertura de espírito suficiente para aceitarem críticas à sua fé. Por outro lado, os muçulmanos vêem em cada declaração menos favorável uma ofensa de morte às suas crenças.
Por muito que custe aos países islâmicos aceitar, É UM FACTO que o terrorismo a partir do 11 de Setembro se tornou islâmico, levado a cabo por indivíduos que julgam prestar um grande serviço a Allah matando aos milhares de cada vez.
O Ocidente não pode deixar de ter opinião sobre o Islão só porque o Islão não gosta. Se é verdade que se deve prezar a liberdade e o direito à existência segundo as suas crenças das populações muçulmanas, também é certo que a liberdade e o direito à existência de todos os outros como bem entendem não é de menor importância.
O respeito tem de ser mútuo. Só respeitando se pode ser respeitado.
O Papa Bento XVI, quiçá intencionalmente, citou um diálogo ocorrido no séc. XII entre o imperador bizantino e um convidado persa em que o primeiro condenava o facto de Maomé propagar a fé através da espada, usando esse diálogo para ilustrar a situação actual.
Vamos por partes.
Sem dúvida que o Islão é uma religião de paz.
Sem dúvida que o Cristianismo também o é.
Sem dúvida que os radicais islâmicos massacram gente inocente em nome dessa mesma religião de paz.
Sem dúvida que os radicais cristãos também o fizeram e ainda fazem.
Se até aqui estão ao mesmo nível, cristãos e muçulmanos diferem num ponto essencial: os primeiros, graças à secularização da sociedade consequente da Revolução Francesa, conseguem ter a abertura de espírito suficiente para aceitarem críticas à sua fé. Por outro lado, os muçulmanos vêem em cada declaração menos favorável uma ofensa de morte às suas crenças.
Por muito que custe aos países islâmicos aceitar, É UM FACTO que o terrorismo a partir do 11 de Setembro se tornou islâmico, levado a cabo por indivíduos que julgam prestar um grande serviço a Allah matando aos milhares de cada vez.
O Ocidente não pode deixar de ter opinião sobre o Islão só porque o Islão não gosta. Se é verdade que se deve prezar a liberdade e o direito à existência segundo as suas crenças das populações muçulmanas, também é certo que a liberdade e o direito à existência de todos os outros como bem entendem não é de menor importância.
O respeito tem de ser mútuo. Só respeitando se pode ser respeitado.
Então e o Sudão?!...
Pois é! Parece que as mentes caridosas que se indignaram com a ofensiva israelita no Líbano para combater terroristas que se escondem cobardemente entre a populção civil, ignorando ingenuamente os ataques por eles perpretados, ainda não repararam que no Sudão a população civil está a ser massacrada pelo próprio governo que por acaso até é muçulmano.
E o pior é que não se pode culpar os EUA como agora é moda, pois os americanos têm insistentemente pressionado o governo sudanês a permitir a entrada de capacetes azuis no território, algo que tem sido sistematicamente recusado.
Claro que, se formos a ver bem a coisa, não faltará aí uma qualquer teoria da conspiração que implique os Estados Unidos na questão.
Afinal se há quem consiga defender que o 11 de Setembro não passou de uma manobra do próprio governo americano, que se deu ao trabalho de massacrar mais de dois milhares dos seus concidadãos e provocar um enorme prejuízo económico só porque lhe apeteceu, não será de estranhar este conveniente esquecimento.
Aliás, é até muito provável que o furacão Katrina também tenha sido uma maquinação de Bush...
E o pior é que não se pode culpar os EUA como agora é moda, pois os americanos têm insistentemente pressionado o governo sudanês a permitir a entrada de capacetes azuis no território, algo que tem sido sistematicamente recusado.
Claro que, se formos a ver bem a coisa, não faltará aí uma qualquer teoria da conspiração que implique os Estados Unidos na questão.
Afinal se há quem consiga defender que o 11 de Setembro não passou de uma manobra do próprio governo americano, que se deu ao trabalho de massacrar mais de dois milhares dos seus concidadãos e provocar um enorme prejuízo económico só porque lhe apeteceu, não será de estranhar este conveniente esquecimento.
Aliás, é até muito provável que o furacão Katrina também tenha sido uma maquinação de Bush...
28 agosto, 2006
Ainda o Médio Oriente
Começo por afirmar que não gosto de George W. Bush. Na minha humilde opinião, foi o presidente mais bronco que os americanos já elegeram.
Devo dizer também que penso que a invasão do Iraque foi um tremendo erro estratégico, equivalente a dar um pontapé num vespeiro. Uma vitória militar fácil em guerra convencional, transformou-se num pesadelo de contra-guerrilha.
Todavia sou forçado a concordar com Bush quando este refere que os EUA não podem simplesmente abandonar o Iraque à sua sorte. Têm de acabar o que começaram.
Para sairem de lá, têm forçosamente que derrotar os extremistas e pacificar o país (seja uma pax americana ou outra qualquer), pois o contrário, além da admissão de uma derrota humilhante, seria um convite à expansão sem entraves da actividade dos radicais islâmicos personificada pela Al-Qaeda.
E não se iludam aqueles que vêem na derrota dos EUA uma boa notícia.
Se os radicais se apanham com campo livre para actuar, todo o ocidente, com as suas virtudes e os seus muitos defeitos, estará em perigo, pois eles não descansarão enquanto não fizerem regredir a civilização para o séc. XIII. Nem que para isso tenham que abater gente inocente aos milhares de cada vez, até instituírem a sua visão retrógada e preconceituosa do mundo.
Aí, os que actualmente defendem piedosamente o direito ao extremismo e vislumbram conspirações americanas por toda a parte, poderão dizer adeus à liberdade de criticar, de ser, de estar, de pensar, pois tudo passará a ter os ditâmes do Alcorão, tal como interpretados pelos mullah's. Ou seja, será o renascimento do Santo Ofício em versão islâmica.
E pensar que o Islão é uma religião de paz e harmonia.
Devo dizer também que penso que a invasão do Iraque foi um tremendo erro estratégico, equivalente a dar um pontapé num vespeiro. Uma vitória militar fácil em guerra convencional, transformou-se num pesadelo de contra-guerrilha.
Todavia sou forçado a concordar com Bush quando este refere que os EUA não podem simplesmente abandonar o Iraque à sua sorte. Têm de acabar o que começaram.
Para sairem de lá, têm forçosamente que derrotar os extremistas e pacificar o país (seja uma pax americana ou outra qualquer), pois o contrário, além da admissão de uma derrota humilhante, seria um convite à expansão sem entraves da actividade dos radicais islâmicos personificada pela Al-Qaeda.
E não se iludam aqueles que vêem na derrota dos EUA uma boa notícia.
Se os radicais se apanham com campo livre para actuar, todo o ocidente, com as suas virtudes e os seus muitos defeitos, estará em perigo, pois eles não descansarão enquanto não fizerem regredir a civilização para o séc. XIII. Nem que para isso tenham que abater gente inocente aos milhares de cada vez, até instituírem a sua visão retrógada e preconceituosa do mundo.
Aí, os que actualmente defendem piedosamente o direito ao extremismo e vislumbram conspirações americanas por toda a parte, poderão dizer adeus à liberdade de criticar, de ser, de estar, de pensar, pois tudo passará a ter os ditâmes do Alcorão, tal como interpretados pelos mullah's. Ou seja, será o renascimento do Santo Ofício em versão islâmica.
E pensar que o Islão é uma religião de paz e harmonia.
24 agosto, 2006
O mundo está perigoso!
Tivemos recentemente notícia de que a Síria encararia como um acto hostil a colocação de forças internacionais em território libanês junto à sua fronteira.
Claaaro! Assim deixariam de poder reequipar o Hizballah e ficaria à vista até das mentes mais ingénuas um dos instigadores da instabilidade na região.
Na semana passada a polícia inglesa abortou um megaplano terrorista em iminente estado de execução, que teria como resultado a explosão em pleno vôo de mais de uma dezena de aviões de e para os Estados Unidos. E, é preciso não esquecer, milhares e milhares de vítimas inocentes, entre passageiros e pessoas que levassem com os destroços em cima.
Naturalmente que surgem as comparações apressadas com os civis mortos no Líbano, que, sem dúvida, não serão menos inocentes.
Há, porém, uma diferença substancial. Enquanto que no Líbano o Hizballah, deliberadamente, se misturou com a população, construindo os seus bunkers em áreas residenciais disfarçados de blocos de apartamentos, lançando os seus katiusha a partir dos bairros libaneses, na Europa as potenciais vítimas seriam pessoas que simplesmente estariam a deslocar-se do ponto A para o ponto B.
"O mesmo aconteceu no Líbano!", poderão dizer e com razão. Mas isso só amplifica a responsabilidade dos terroristas pelo horror a que sujeitam as populações que, muitas vezes sem hipótese de escolha, os albergam no seu seio. Horror esse que planeiam exportar culpando a prosperidade ocidental pelas insuficiências e frustrações dos seus países. Esquecendo convenientemente que são parte do problema; não vendo ou não querendo ver que a Europa só se tornou próspera depois de duas guerras mundiais, quando finalmente tomou consciência da importância da paz; pretendendo reduzir o mundo ao mínimo denominador comum: a miséria.
Se em vez de dedicarem um ódio visceral ao Ocidente, canalizassem as energias para a melhoria das condições de vida nos seus próprios países, certamente que o mundo deixaria de ser tão perigoso.
Claaaro! Assim deixariam de poder reequipar o Hizballah e ficaria à vista até das mentes mais ingénuas um dos instigadores da instabilidade na região.
Na semana passada a polícia inglesa abortou um megaplano terrorista em iminente estado de execução, que teria como resultado a explosão em pleno vôo de mais de uma dezena de aviões de e para os Estados Unidos. E, é preciso não esquecer, milhares e milhares de vítimas inocentes, entre passageiros e pessoas que levassem com os destroços em cima.
Naturalmente que surgem as comparações apressadas com os civis mortos no Líbano, que, sem dúvida, não serão menos inocentes.
Há, porém, uma diferença substancial. Enquanto que no Líbano o Hizballah, deliberadamente, se misturou com a população, construindo os seus bunkers em áreas residenciais disfarçados de blocos de apartamentos, lançando os seus katiusha a partir dos bairros libaneses, na Europa as potenciais vítimas seriam pessoas que simplesmente estariam a deslocar-se do ponto A para o ponto B.
"O mesmo aconteceu no Líbano!", poderão dizer e com razão. Mas isso só amplifica a responsabilidade dos terroristas pelo horror a que sujeitam as populações que, muitas vezes sem hipótese de escolha, os albergam no seu seio. Horror esse que planeiam exportar culpando a prosperidade ocidental pelas insuficiências e frustrações dos seus países. Esquecendo convenientemente que são parte do problema; não vendo ou não querendo ver que a Europa só se tornou próspera depois de duas guerras mundiais, quando finalmente tomou consciência da importância da paz; pretendendo reduzir o mundo ao mínimo denominador comum: a miséria.
Se em vez de dedicarem um ódio visceral ao Ocidente, canalizassem as energias para a melhoria das condições de vida nos seus próprios países, certamente que o mundo deixaria de ser tão perigoso.
22 agosto, 2006
Vitória?!
"Vitória!", gritou o Hizballah.
"Vitória!", aplaudiu a Síria.
"Vitória!", congratulou-se o Irão.
Que raio - penso eu -, será que me escapou alguma coisa?
Pontes e estradas destruídas, casas arrasadas, escombros por toda a parte, famílias chorando os seus mortos, a economia libanesa abalada...
Não, o cenário de destruição é real.
Então, mas afinal que ganharam os radicais?
Tiveram uma vitória moral, ao sobreviverem e aguentarem a ofensiva israelita. Conseguiram, mais uma vez, intoxicar a opinião pública fazendo-se passar por vítimas e deixando que Israel ficasse, mais uma vez, como o "lobo mau" da história.
E agora, com a maior desfaçatez, inquirem junto da população libanesa sobre os prejuízos que tiveram e registam-nos prometendo compensação. Claro que para isso, como já afirmaram, terão necessidade da ajuda da comunidade internacional, essa mesma comunidade internacional contra a qual vociferam por, no seu iluminado entendimento, considerarem que apoia a causa do jurado inimigo judeu.
Além disso, e aqui é um comentário meu, os 400 milhões de euros do seu orçamento têm de ser aplicados no rearmamento, para que possam reeditar oportunamente toda esta farsa...
"Vitória!", aplaudiu a Síria.
"Vitória!", congratulou-se o Irão.
Que raio - penso eu -, será que me escapou alguma coisa?
Pontes e estradas destruídas, casas arrasadas, escombros por toda a parte, famílias chorando os seus mortos, a economia libanesa abalada...
Não, o cenário de destruição é real.
Então, mas afinal que ganharam os radicais?
Tiveram uma vitória moral, ao sobreviverem e aguentarem a ofensiva israelita. Conseguiram, mais uma vez, intoxicar a opinião pública fazendo-se passar por vítimas e deixando que Israel ficasse, mais uma vez, como o "lobo mau" da história.
E agora, com a maior desfaçatez, inquirem junto da população libanesa sobre os prejuízos que tiveram e registam-nos prometendo compensação. Claro que para isso, como já afirmaram, terão necessidade da ajuda da comunidade internacional, essa mesma comunidade internacional contra a qual vociferam por, no seu iluminado entendimento, considerarem que apoia a causa do jurado inimigo judeu.
Além disso, e aqui é um comentário meu, os 400 milhões de euros do seu orçamento têm de ser aplicados no rearmamento, para que possam reeditar oportunamente toda esta farsa...
07 agosto, 2006
Assim o Hizballah ganha sempre...
Para que conste, Israel retirou do Líbano em 2000 na sequência de uma resolução das Nações Unidas, a qual preconizava também o desarmamento do Hizballah. Infelizmente, tal desarmamento não ocorreu, antes pelo contrário, e hoje temos um exército terrorista treinado, equipado e financiado pela Síria e pelo Irão que actua a partir do Líbano com o fim único e último de proceder à destruição de Israel, por quaisquer meios ao seu alcance.
De facto, o problema de fundo no Médio Oriente é só um: a existência de Israel.
Qual espinho cravado na garganta do mundo árabe, o estado judaico insiste em sobreviver contra tudo e contra todos, literalmente desde a sua fundação. A actual violência no Líbano é só mais um episódio negro deste conflito que opõe muçulmanos a judeus e do qual não é possível antever o fim.
Há, todavia, alguns factos a salientar. Se é verdade que as baixas civis são sempre um corolário trágico das acções de guerra, o qual é duplamente trágico quando as vítimas são crianças, não é menos certo que o "Partido de Deus" não tem quaisquer escrúpulos em lançar os seus ataques a partir de áreas habitacionais, usando a população civil como escudos humanos para apararem a previsível retaliação israelita que visa a destruição das baterias de mísseis, as quais, por serem móveis, o Hizballah tem o cuidado de fazer desaparecer dali uma vez cumprida a sua função. Perante o mais que compreensível desespero das populações que vêem as suas vidas arruinadas, os radicais aproveitam para o manipular em seu favor, acirrando ânimos e granjeando assim uma aura de libertadores que lhes providenciará mais e mais fervorosos adeptos.
No mundo ocidental, sucedem-se as manifestações que, fazendo vista grossa a esta lógica perversa, apenas vêem um lado: o dos sanguinários judeus, bandidos-que-sem-qualquer-motivo-se-entretêm-a-massacrar-civis-indefesos. O ponto de vista dos governos das potências ocidentais, ainda que mais civilizado, não é muito diferente: sucedem-se as condenações das vítimas civis e tarda o assumir de responsabilidades pela inacção e/ou ingerência que ao longo de décadas, conforme as conveniências geopolíticas, foram alimentando a instabilidade no Médio Oriente.
Claro que Israel tem a sua quota-parte de culpas no conflito israelo-palestiniano, mas não tem o exclusivo nem o actual estado de guerra no Líbano tem alguma coisa a ver com a Palestina, que parece curiosamente esquecida pelos radicais islâmicos. O que está a acontecer é tão somente uma luta pela hegemonia regional em que Síria e Irão pretendem conseguir através da instauração do terror de ambos os lados da fronteira libanesa aquilo que não conseguiram com as sucessivas guerras convencionais: destruir o estado judaico para se tornarem eles próprios os senhores da região. Provavelmente, depois de desaparecido o inimigo comum, passariam a lutar entre si, até que um deles conseguisse subjugar todos os outros, numa infindável espiral de violência em que mais uma vez os massacrados seriam os civis. É também curioso que todos os grupos islâmicos radicais se preocupem tanto em idolatrar os tempos áureos do Califado por volta do séc. XIII, esquecendo convenientemente que corresponderam a tempos de relativa paz e progresso material, pois era o mundo árabe que detinha as mais recentes inovações tecnológicas da época, beneficiando da Rota da Seda, enquanto que o Ocidente era um mundo atrasado e bárbaro.
Mas todas estas questões passam ao lado das mentes caridosas que apenas vêem um lado: o do anti-semitismo disfarçado de anti-americanismo. Porque não tenhamos ilusões: o grande crime é apenas o praticado por Israel ao atacar terroristas que se misturam com a população, regra geral depois de atacado; aqueles que se fazem explodir em autocarros cheios de gente ou que lançam centenas de mísseis matando indiscriminadamente judeus e árabes, adultos e crianças, em território israelita, são combatentes da liberdade...
É por tudo isto que os radicais islâmicos vão conseguindo cumprir facilmente a sua agenda político-militar de destruição.
De facto, o problema de fundo no Médio Oriente é só um: a existência de Israel.
Qual espinho cravado na garganta do mundo árabe, o estado judaico insiste em sobreviver contra tudo e contra todos, literalmente desde a sua fundação. A actual violência no Líbano é só mais um episódio negro deste conflito que opõe muçulmanos a judeus e do qual não é possível antever o fim.
Há, todavia, alguns factos a salientar. Se é verdade que as baixas civis são sempre um corolário trágico das acções de guerra, o qual é duplamente trágico quando as vítimas são crianças, não é menos certo que o "Partido de Deus" não tem quaisquer escrúpulos em lançar os seus ataques a partir de áreas habitacionais, usando a população civil como escudos humanos para apararem a previsível retaliação israelita que visa a destruição das baterias de mísseis, as quais, por serem móveis, o Hizballah tem o cuidado de fazer desaparecer dali uma vez cumprida a sua função. Perante o mais que compreensível desespero das populações que vêem as suas vidas arruinadas, os radicais aproveitam para o manipular em seu favor, acirrando ânimos e granjeando assim uma aura de libertadores que lhes providenciará mais e mais fervorosos adeptos.
No mundo ocidental, sucedem-se as manifestações que, fazendo vista grossa a esta lógica perversa, apenas vêem um lado: o dos sanguinários judeus, bandidos-que-sem-qualquer-motivo-se-entretêm-a-massacrar-civis-indefesos. O ponto de vista dos governos das potências ocidentais, ainda que mais civilizado, não é muito diferente: sucedem-se as condenações das vítimas civis e tarda o assumir de responsabilidades pela inacção e/ou ingerência que ao longo de décadas, conforme as conveniências geopolíticas, foram alimentando a instabilidade no Médio Oriente.
Claro que Israel tem a sua quota-parte de culpas no conflito israelo-palestiniano, mas não tem o exclusivo nem o actual estado de guerra no Líbano tem alguma coisa a ver com a Palestina, que parece curiosamente esquecida pelos radicais islâmicos. O que está a acontecer é tão somente uma luta pela hegemonia regional em que Síria e Irão pretendem conseguir através da instauração do terror de ambos os lados da fronteira libanesa aquilo que não conseguiram com as sucessivas guerras convencionais: destruir o estado judaico para se tornarem eles próprios os senhores da região. Provavelmente, depois de desaparecido o inimigo comum, passariam a lutar entre si, até que um deles conseguisse subjugar todos os outros, numa infindável espiral de violência em que mais uma vez os massacrados seriam os civis. É também curioso que todos os grupos islâmicos radicais se preocupem tanto em idolatrar os tempos áureos do Califado por volta do séc. XIII, esquecendo convenientemente que corresponderam a tempos de relativa paz e progresso material, pois era o mundo árabe que detinha as mais recentes inovações tecnológicas da época, beneficiando da Rota da Seda, enquanto que o Ocidente era um mundo atrasado e bárbaro.
Mas todas estas questões passam ao lado das mentes caridosas que apenas vêem um lado: o do anti-semitismo disfarçado de anti-americanismo. Porque não tenhamos ilusões: o grande crime é apenas o praticado por Israel ao atacar terroristas que se misturam com a população, regra geral depois de atacado; aqueles que se fazem explodir em autocarros cheios de gente ou que lançam centenas de mísseis matando indiscriminadamente judeus e árabes, adultos e crianças, em território israelita, são combatentes da liberdade...
É por tudo isto que os radicais islâmicos vão conseguindo cumprir facilmente a sua agenda político-militar de destruição.
12 julho, 2006
Expliquem-me como se eu fosse uma criança de quatro anos!
Porquê? Porquê? Porquê?
Porque não é possível haver paz na Palestina? Porque há tanto ódio? Porque não podem as crianças crescer em segurança? Porque não se entendem os governos? Porque há tantos mortos? Para quando o fim da chacina?
Expliquem-me como se eu fosse uma criança de quatro anos!
Talvez assim consiga compreender.
Porque não é possível haver paz na Palestina? Porque há tanto ódio? Porque não podem as crianças crescer em segurança? Porque não se entendem os governos? Porque há tantos mortos? Para quando o fim da chacina?
Expliquem-me como se eu fosse uma criança de quatro anos!
Talvez assim consiga compreender.
30 junho, 2006
Timor, o neocolonizado
Timor está mais uma vez a ferro e fogo.
Sucedem-se os actos de vandalismo, as ameaças mais ou menos veladas, a crise institucional entre o Presidente da República (PR) e o Primeiro-Ministro (PM) agrava-se e de ambos os lados já se começam a "contar espingardas" (figurativa e literalmente) e a acertar posições tendo em vista... não se sabe bem o quê, mas paira no ar o espectro da guerra civil.
As causas?
São ainda mais confusas.
Ao que parece surgiram acusações de que o PM teria armado milícias para acabar com os opositores. Isto apoiado em "provas irrefutáveis" como sejam uma reportagem televisiva num canal australiano ou declarações de alguns "arrependidos". Tanto quanto se sabe ainda não houve qualquer investigação independente.
E porque seria necessária uma investigação independente? As instituições judiciais timorenses não terão competência para investigar o caso?
Pois, aparentemente não. Formaram-se comissões de descontentes, os militares revoltaram-se, a população que não está ocupada a fugir da violência toma um ou outro partido, mas das autoridades judiciais ainda não se ouviu qualquer expressão. Será que existem?
Por outro lado, regista-se uma quase omnipresença de militares australianos cuja missão oficialmente divulgada seria a de restabelecer a paz. Infelizmente, porém, o que se tem verificado é que quem incendeia casas tem actuado quase impunemente, pois surgem aqui e ali relatos de impassividade dos soldados da Austrália perante a situação.
A par disso, há a registar certos atritos entre os portugueses e os australianos. Desde os obstáculos postos ao envio de força da GNR, passando pelo desautorizar desta em pleno teatro de operações, chegando ao importunar de individualidades portuguesas como é exemplo o caso da visita do nosso Duque de Bragança, que viajando num carro com identificação da embaixada de Portugal e escoltado por um elemento dos GOE, foi mandado parar por uma patrulha australiana sendo que ao polícia português foi exigida a entrega da arma pessoal (devo dizer que não conheço pessoalmente o sr. Duarte Pio, mas, pelo que tenho visto na TV, acho que ele não se parece nada com um incendiário timorense), tem-se assistido a uma certa má vontade contra Portugal, como se a presença da antiga potência colonial fosse de algum modo inconveniente para os projectos de uma potência regional que terá quiçá aspirações a neocolonial.
E porquê? Porque razão haveria a Austrália de se preocupar com um dos países mais pobres, senão o mais pobre, do mundo?
Bem, o país poderá ser pobre mas tem importantes riquezas naturais estratégicas como o petróleo e o gás natural, as quais sem dúvida justificarão uma tentativa de influenciar a sua política interna no sentido de colocar no poder alguém mais "compreensivo" para com os interesses de Camberra, uma visão que é de resto unanimemente partilhada por quem teve ocasião de conhecer de perto a realidade timorense.
Mais uma vez, como em tantas ocasiões anteriores, a riqueza do petróleo transforma-se numa maldição para quem a possui. Vem-me à memória a minha visita a Cabo Verde no distante ano de 2000. O motorista do táxi que nos transportava, um respeitável senhor de meia-idade, contava orgulhoso que na ilha iria nascer uma fábrica de lapidação de diamantes e a minha esposa terá dito que o que seria bom era que no país fosse encontrado petróleo; resposta imediata do caboverdiano: "Deus me livre!"...
Sucedem-se os actos de vandalismo, as ameaças mais ou menos veladas, a crise institucional entre o Presidente da República (PR) e o Primeiro-Ministro (PM) agrava-se e de ambos os lados já se começam a "contar espingardas" (figurativa e literalmente) e a acertar posições tendo em vista... não se sabe bem o quê, mas paira no ar o espectro da guerra civil.
As causas?
São ainda mais confusas.
Ao que parece surgiram acusações de que o PM teria armado milícias para acabar com os opositores. Isto apoiado em "provas irrefutáveis" como sejam uma reportagem televisiva num canal australiano ou declarações de alguns "arrependidos". Tanto quanto se sabe ainda não houve qualquer investigação independente.
E porque seria necessária uma investigação independente? As instituições judiciais timorenses não terão competência para investigar o caso?
Pois, aparentemente não. Formaram-se comissões de descontentes, os militares revoltaram-se, a população que não está ocupada a fugir da violência toma um ou outro partido, mas das autoridades judiciais ainda não se ouviu qualquer expressão. Será que existem?
Por outro lado, regista-se uma quase omnipresença de militares australianos cuja missão oficialmente divulgada seria a de restabelecer a paz. Infelizmente, porém, o que se tem verificado é que quem incendeia casas tem actuado quase impunemente, pois surgem aqui e ali relatos de impassividade dos soldados da Austrália perante a situação.
A par disso, há a registar certos atritos entre os portugueses e os australianos. Desde os obstáculos postos ao envio de força da GNR, passando pelo desautorizar desta em pleno teatro de operações, chegando ao importunar de individualidades portuguesas como é exemplo o caso da visita do nosso Duque de Bragança, que viajando num carro com identificação da embaixada de Portugal e escoltado por um elemento dos GOE, foi mandado parar por uma patrulha australiana sendo que ao polícia português foi exigida a entrega da arma pessoal (devo dizer que não conheço pessoalmente o sr. Duarte Pio, mas, pelo que tenho visto na TV, acho que ele não se parece nada com um incendiário timorense), tem-se assistido a uma certa má vontade contra Portugal, como se a presença da antiga potência colonial fosse de algum modo inconveniente para os projectos de uma potência regional que terá quiçá aspirações a neocolonial.
E porquê? Porque razão haveria a Austrália de se preocupar com um dos países mais pobres, senão o mais pobre, do mundo?
Bem, o país poderá ser pobre mas tem importantes riquezas naturais estratégicas como o petróleo e o gás natural, as quais sem dúvida justificarão uma tentativa de influenciar a sua política interna no sentido de colocar no poder alguém mais "compreensivo" para com os interesses de Camberra, uma visão que é de resto unanimemente partilhada por quem teve ocasião de conhecer de perto a realidade timorense.
Mais uma vez, como em tantas ocasiões anteriores, a riqueza do petróleo transforma-se numa maldição para quem a possui. Vem-me à memória a minha visita a Cabo Verde no distante ano de 2000. O motorista do táxi que nos transportava, um respeitável senhor de meia-idade, contava orgulhoso que na ilha iria nascer uma fábrica de lapidação de diamantes e a minha esposa terá dito que o que seria bom era que no país fosse encontrado petróleo; resposta imediata do caboverdiano: "Deus me livre!"...
19 junho, 2006
D. João II, O Príncipe Perfeito
Estou a finalizar a leitura da biografia deste rei, da autoria de Adão Fonseca, inserida na colecção Reis de Portugal editada pelo Círculo de Leitores.
É uma obra que escalpeliza ao pormenor todo o reinado de D. João II, não esquecendo a conjuntura que este herdou de seu pai D. Afonso V e as consequências do mesmo para o país.
Pode afirmar-se que se trata de um trabalho homérico, atendendo a que a informação disponível se encontra na maior parte dos casos dispersa por diversas fontes, mas que se lê com interesse.
Saliento aqui o capítulo sobre a política de expansão ultramarina iniciada por D. Afonso V e concretizada pelo seu filho e a mudança conceptual que esta implicou nas mentalidades da época. De facto, até ao seu reinado pensava-se, em termos genéricos, o Atlântico como uma continuação na horizontal do Mediterrâneo, o que ficaria estabelecido no Tratado de Alcáçovas-Toledo que preconizou uma primeira divisão do mundo conhecido entre Portugal e Castela. Nos posteriores tratados de Tordesilhas (sim, foram dois assinados na mesma altura, um sobre o comércio da Guiné e outro, o mais famoso, que foi a delimitação de 350 léguas para Ocidente a partir das ilhas de Cabo Verde) , assiste-se a uma divisão na vertical do mundo então conhecido e a conhecer.
Isto só foi possível graças ao trabalho de exploração da costa africana iniciado por D. João II, que mudaria o enfoque da política externa portuguesa, deixando esta de estar centrada na Europa e nos seus jogos de influências, para se expandir para além desta.
E como foi isso conseguido?
Pela experiência de marinharia dos portugueses que, consoante a época do ano, eram pescadores ou corsários, adquirindo competências de navegação no alto mar que seriam úteis para a posterior descoberta do caminho marítimo para a Índia.
De referir ainda que D. João II dispunha de um eficaz serviço de informações. Obviamente não nos termos em que hoje é entendido, mas algo mais parecido com o ter pessoas da sua confiança gravitando na corte castelhana (não necessariamente espiões), as quais lhe forneceriam dados preciosos sobre as opiniões dominantes ou sobre as tendências políticas que teriam mais hipóteses de se concretizarem no pensamento dos Reis Católicos, permitindo assim ao soberano português negociar indo ao encontro dos interesses castelhanos ao mesmo tempo que promovia os da coroa portuguesa.
Pelo exposto, e apesar de haver sempre uma componente de lenda nos cognomes dados aos reis, penso ser inteiramente justa a denominação de Príncipe Perfeito, dada a política por este Rei desenvolvida, a qual se pode considerar nos primórdios de um Absolutismo pela ênfase posta na autoridade régia e do Estado.
Recomendo vivamente para quem quiser saber mais sobre, por exemplo, os bastidores da expansão ultramarina de Portugal.
É uma obra que escalpeliza ao pormenor todo o reinado de D. João II, não esquecendo a conjuntura que este herdou de seu pai D. Afonso V e as consequências do mesmo para o país.
Pode afirmar-se que se trata de um trabalho homérico, atendendo a que a informação disponível se encontra na maior parte dos casos dispersa por diversas fontes, mas que se lê com interesse.
Saliento aqui o capítulo sobre a política de expansão ultramarina iniciada por D. Afonso V e concretizada pelo seu filho e a mudança conceptual que esta implicou nas mentalidades da época. De facto, até ao seu reinado pensava-se, em termos genéricos, o Atlântico como uma continuação na horizontal do Mediterrâneo, o que ficaria estabelecido no Tratado de Alcáçovas-Toledo que preconizou uma primeira divisão do mundo conhecido entre Portugal e Castela. Nos posteriores tratados de Tordesilhas (sim, foram dois assinados na mesma altura, um sobre o comércio da Guiné e outro, o mais famoso, que foi a delimitação de 350 léguas para Ocidente a partir das ilhas de Cabo Verde) , assiste-se a uma divisão na vertical do mundo então conhecido e a conhecer.
Isto só foi possível graças ao trabalho de exploração da costa africana iniciado por D. João II, que mudaria o enfoque da política externa portuguesa, deixando esta de estar centrada na Europa e nos seus jogos de influências, para se expandir para além desta.
E como foi isso conseguido?
Pela experiência de marinharia dos portugueses que, consoante a época do ano, eram pescadores ou corsários, adquirindo competências de navegação no alto mar que seriam úteis para a posterior descoberta do caminho marítimo para a Índia.
De referir ainda que D. João II dispunha de um eficaz serviço de informações. Obviamente não nos termos em que hoje é entendido, mas algo mais parecido com o ter pessoas da sua confiança gravitando na corte castelhana (não necessariamente espiões), as quais lhe forneceriam dados preciosos sobre as opiniões dominantes ou sobre as tendências políticas que teriam mais hipóteses de se concretizarem no pensamento dos Reis Católicos, permitindo assim ao soberano português negociar indo ao encontro dos interesses castelhanos ao mesmo tempo que promovia os da coroa portuguesa.
Pelo exposto, e apesar de haver sempre uma componente de lenda nos cognomes dados aos reis, penso ser inteiramente justa a denominação de Príncipe Perfeito, dada a política por este Rei desenvolvida, a qual se pode considerar nos primórdios de um Absolutismo pela ênfase posta na autoridade régia e do Estado.
Recomendo vivamente para quem quiser saber mais sobre, por exemplo, os bastidores da expansão ultramarina de Portugal.
04 maio, 2006
Afinal foi só uma pequena claridade...
Pois, de facto o que a Conferência Episcopal Portuguesa disse foi que o preservativo era aceitável dentro do casamento para evitar doenças sexualmente transmissíveis.
Embora não tenha sido uma alteração radical da doutrina, sempre é uma evolução relativamente à posição anterior de rejeição absoluta de qualquer método contraceptivo.
Naturalmente que cada um faz aquilo que entende na sua vida privada e não está à espera de receber directivas da Igreja.
O que é curioso verificar é a lenta e dolorosa adaptação desta às mudanças da sociedade, para não correr o risco de ficar a falar sozinha.
Embora não tenha sido uma alteração radical da doutrina, sempre é uma evolução relativamente à posição anterior de rejeição absoluta de qualquer método contraceptivo.
Naturalmente que cada um faz aquilo que entende na sua vida privada e não está à espera de receber directivas da Igreja.
O que é curioso verificar é a lenta e dolorosa adaptação desta às mudanças da sociedade, para não correr o risco de ficar a falar sozinha.
28 abril, 2006
Finalmente fez-se luz...
Hurra! Hossana! Aleluia!
Segundo a manchete de um matutino lisboeta, a Conferência Episcopal Portuguesa aceitou finalmente o uso do preservativo, ainda que considerando tratar-se de um mal menor. O Bispo D. Januário afirmou mesmo "antes o látex que o aborto", posição de que comungo se bem que, provavelmente, por motivos diferentes.
Depois de há cerca de um mês atrás um padre ter colocado um anúncio no jornal avisando que não daria a comunhão a quem defendesse publicamente os métodos contraceptivos ou o aborto, eis que a Igreja acorda para o séc. XXI.
É este o seu principal problema: a mentalidade social muda muito mais depressa do que aquilo que os rígidos dogmas religiosos conseguem acompanhar.
Durante demasiado tempo, quando colocada perante a realidade da epidemia de SIDA grassando livremente em África dado o pouco uso dos preservativos, preferiu refugiar-se no dogma a encarar de frente a situação ainda que isso significasse uma correcção da doutrina.
Por outro lado, no Ocidente, as pessoas tornaram-se bastante críticas em relação à actividade da Igreja depois dos escândalos de pedofilia protagonizados por sacerdotes, os quais eram simplesmente mudados de paróquia ao invés de serem chamados à responsabilidade e punidos.
Mesmo em Portugal, país que se apregoa como maioritariamente católico, grande parte das pessoas só vai à igreja em três ocasiões: de carrinho, de carrão e de carreta, isto é, no baptizado, no casamento e no funeral.
E isto ilustra o progressivo afastamento entre a Igreja e o seu público-alvo.
Afinal, numa época em que a informação nos chega pelas mais diversas formas, para que precisamos nós de um indivíduo que nos diga como devemos levar a nossa vida, baseado não na experiência pessoal, mas sim nuns escritos elaborados há pelo menos dois mil anos?
Segundo a manchete de um matutino lisboeta, a Conferência Episcopal Portuguesa aceitou finalmente o uso do preservativo, ainda que considerando tratar-se de um mal menor. O Bispo D. Januário afirmou mesmo "antes o látex que o aborto", posição de que comungo se bem que, provavelmente, por motivos diferentes.
Depois de há cerca de um mês atrás um padre ter colocado um anúncio no jornal avisando que não daria a comunhão a quem defendesse publicamente os métodos contraceptivos ou o aborto, eis que a Igreja acorda para o séc. XXI.
É este o seu principal problema: a mentalidade social muda muito mais depressa do que aquilo que os rígidos dogmas religiosos conseguem acompanhar.
Durante demasiado tempo, quando colocada perante a realidade da epidemia de SIDA grassando livremente em África dado o pouco uso dos preservativos, preferiu refugiar-se no dogma a encarar de frente a situação ainda que isso significasse uma correcção da doutrina.
Por outro lado, no Ocidente, as pessoas tornaram-se bastante críticas em relação à actividade da Igreja depois dos escândalos de pedofilia protagonizados por sacerdotes, os quais eram simplesmente mudados de paróquia ao invés de serem chamados à responsabilidade e punidos.
Mesmo em Portugal, país que se apregoa como maioritariamente católico, grande parte das pessoas só vai à igreja em três ocasiões: de carrinho, de carrão e de carreta, isto é, no baptizado, no casamento e no funeral.
E isto ilustra o progressivo afastamento entre a Igreja e o seu público-alvo.
Afinal, numa época em que a informação nos chega pelas mais diversas formas, para que precisamos nós de um indivíduo que nos diga como devemos levar a nossa vida, baseado não na experiência pessoal, mas sim nuns escritos elaborados há pelo menos dois mil anos?
11 abril, 2006
Querem ver que a história foi mal contada...
Na passada semana o Diário de Notícias relatava sobre uma investigação patrocinada pela National Geographic, a propósito de um manuscrito encontrado na região de El Minya, no Egipto, o qual foi já autenticado através de carbono 14, peritagem paleográfica e análise física do papiro.
Nesse documento, intitulado "O Evangelho Segundo Judas", é contada outra versão da cruxificação de Cristo, segundo a qual Judas Iscariote, ao invés de ter traído o seu mestre por 30 dinheiros, limitou-se, outrossim, a cumprir as instruções emanadas do próprio Jesus para o entregar aos soldados romanos, que lhe teriam então pago aquela verba.
O que é interessante nesta outra versão dos acontecimentos que levaram à celebração do que é hoje a Páscoa, é que a "responsabilidade" de Cristo no seu próprio sofrimento é de certo modo corroborada pelas Escrituras canónicas, isto é, aquelas oficialmente aceites. Numa análise cuidada, como a que foi feita num documentário transmitido há algum tempo atrás pelo Discovery Channel, pode concluir-se que: a) Cristo afrontou directamente a autoridade do sumo sacerdote, ao atacar e agredir os comerciantes no templo; b) não fugiu quando teve oportunidade, ficando calmamente à espera da chegada dos soldados romanos; c) nada fez para se defender ou contrariar as acusações que lhe eram dirigidas, mesmo quando Pilatos, a instâncias da esposa, se propunha oferecer-lhe uma oportunidade de se salvar.
Nesse documento, intitulado "O Evangelho Segundo Judas", é contada outra versão da cruxificação de Cristo, segundo a qual Judas Iscariote, ao invés de ter traído o seu mestre por 30 dinheiros, limitou-se, outrossim, a cumprir as instruções emanadas do próprio Jesus para o entregar aos soldados romanos, que lhe teriam então pago aquela verba.
O que é interessante nesta outra versão dos acontecimentos que levaram à celebração do que é hoje a Páscoa, é que a "responsabilidade" de Cristo no seu próprio sofrimento é de certo modo corroborada pelas Escrituras canónicas, isto é, aquelas oficialmente aceites. Numa análise cuidada, como a que foi feita num documentário transmitido há algum tempo atrás pelo Discovery Channel, pode concluir-se que: a) Cristo afrontou directamente a autoridade do sumo sacerdote, ao atacar e agredir os comerciantes no templo; b) não fugiu quando teve oportunidade, ficando calmamente à espera da chegada dos soldados romanos; c) nada fez para se defender ou contrariar as acusações que lhe eram dirigidas, mesmo quando Pilatos, a instâncias da esposa, se propunha oferecer-lhe uma oportunidade de se salvar.
Salientem-se ainda outros manuscritos, os de Nag Hammadi, produto da corrente gnóstica dos primórdios do Cristianismo, que defendia, entre outras coisas, uma interpretação pessoal das Escrituras, em oposição à interpretação "ortodoxa" definida pelos bispos da Igreja emergente do séc. I e, como tal, por esta considerados apócrifos e heréticos e votados à destruição. Para uma Igreja que procurava afirmar-se e congregar o maior número de pessoas, ao mesmo tempo que fazia face às perseguições das autoridades romanas - surgem nesta altura os mártires dispostos a morrerem pela sua fé, num processo curiosamente semelhante ao que actualmente move o Islão radical - a necessidade de haver uma fundamentação comum da liturgia era imperiosa para a união em torno de conceitos comummente aceites. Não poderia assim tolerar interpretações divergentes ou que variassem conforme a região.
Agora que foram descobertos estes manuscritos, que oferecem uma visão nalguns casos radicalmente diferente dos cânones da Igreja, qual será a reacção desta? Possivelmente irá ignorá-los como já fez antes.
07 abril, 2006
LEMBRAM-SE DO ANO EM QUE A CHINA DESCOBRIU O MUNDO?
Finalmente posso ler críticas ao livro de Gavin Menzies, "1421, o Ano em que a China descobriu o Mundo".
http://www.kenspy.com/Menzies/
Depois de bem lido o site, voltarei!
Boa Páscoa!
http://www.kenspy.com/Menzies/
Depois de bem lido o site, voltarei!
Boa Páscoa!
21 fevereiro, 2006
Ainda as caricaturas de Maomé
Em resposta ao comentário do caro blogger Pero Vaz, sinto-me compelido a escrever novo artigo, pois que me parece que ainda não foi abordada a questão de fundo.
Sou europeu por convicção e cristão por defeito. No vislumbre que tive das caricaturas de Maomé, não me pareceu que fossem assim tão ofensivas, pelo menos do ponto de vista ocidental. Mas isso é na cultura ocidental, que foi formada pelos ideais libertários da Revolução Francesa a qual também promoveu uma separação entre Igreja e Estado. E, no entanto, basta atentar nas cerimónias ocorridas em Fátima para transladação do corpo da última vidente (reconhecida) das aparições para se perceber como o fenómeno religioso ainda está tão vincado na sociedade.
Agora imagine-se que não tinha ocorrido a Revolução Francesa. Imagine-se que a Igreja mantinha a mesma preponderância social que detinha nos tempos medievais. Imagine-se que, para cúmulo, era por ela que passava toda a instrução das massas. Imagine-se, aqui no ocidente, o mesmo rancor e a mesma frustração diariamente alimentados pelos radicais - a quem foi fornecida substancial quantidade de "munições" para agitar as massas - que romantizam a memória cultural do séc. XIII, em que eram o centro político e cultural do mundo, esquecendo convenientemente os aspectos negativos e a vida dura da época.
Imagine-se ainda ver a sua sociedade ser moldada pelo triunfo do dinheiro e da tecnologia ocidentais onde as Cruzadas falharam, subvertendo - para eles - o modo de vida "são" que era tradicional.
Por fim imaginemos um crescendo, com atitudes como a do ministro italiano ao envergar uma t-shirt com as referidas caricaturas em plena TV ou as declarações belicistas de outros responsáveis europeus, que, por sua vez, provocam a resposta exacerbada do fanatismo islâmico. Por menos que isso já deflagraram duas guerras mundiais.
Não se combate o fogo com o mesmo fogo. Se queremos esvaziar o fundamentalismo islâmico como inequívoca ameaça à civilização que, boa ou má, é a que temos, não podemos continuar a fornecer-lhe gratuitamente argumentos para que continue a existir.
É certo que todos somos livres de fazer o que queremos, mas devemos usar a nossa liberdade sabendo que acaba onde começa a dos outros. Afinal de contas, não andamos pela rua a insultar quem se cruza connosco só porque temos a liberdade para o fazer.
Sou europeu por convicção e cristão por defeito. No vislumbre que tive das caricaturas de Maomé, não me pareceu que fossem assim tão ofensivas, pelo menos do ponto de vista ocidental. Mas isso é na cultura ocidental, que foi formada pelos ideais libertários da Revolução Francesa a qual também promoveu uma separação entre Igreja e Estado. E, no entanto, basta atentar nas cerimónias ocorridas em Fátima para transladação do corpo da última vidente (reconhecida) das aparições para se perceber como o fenómeno religioso ainda está tão vincado na sociedade.
Agora imagine-se que não tinha ocorrido a Revolução Francesa. Imagine-se que a Igreja mantinha a mesma preponderância social que detinha nos tempos medievais. Imagine-se que, para cúmulo, era por ela que passava toda a instrução das massas. Imagine-se, aqui no ocidente, o mesmo rancor e a mesma frustração diariamente alimentados pelos radicais - a quem foi fornecida substancial quantidade de "munições" para agitar as massas - que romantizam a memória cultural do séc. XIII, em que eram o centro político e cultural do mundo, esquecendo convenientemente os aspectos negativos e a vida dura da época.
Imagine-se ainda ver a sua sociedade ser moldada pelo triunfo do dinheiro e da tecnologia ocidentais onde as Cruzadas falharam, subvertendo - para eles - o modo de vida "são" que era tradicional.
Por fim imaginemos um crescendo, com atitudes como a do ministro italiano ao envergar uma t-shirt com as referidas caricaturas em plena TV ou as declarações belicistas de outros responsáveis europeus, que, por sua vez, provocam a resposta exacerbada do fanatismo islâmico. Por menos que isso já deflagraram duas guerras mundiais.
Não se combate o fogo com o mesmo fogo. Se queremos esvaziar o fundamentalismo islâmico como inequívoca ameaça à civilização que, boa ou má, é a que temos, não podemos continuar a fornecer-lhe gratuitamente argumentos para que continue a existir.
É certo que todos somos livres de fazer o que queremos, mas devemos usar a nossa liberdade sabendo que acaba onde começa a dos outros. Afinal de contas, não andamos pela rua a insultar quem se cruza connosco só porque temos a liberdade para o fazer.
15 fevereiro, 2006
Tolerância vs intolerância
Ainda os cartoons de Maomé.
Fiquei pasmo ao ler os comentários às notícias veiculadas por um certo matutino de que recebo a newsletter, o qual, não sendo exactamente um jornal de referência, é ainda assim um espelho do pensamento de boa parte da população portuguesa.
Pois muitos dos nossos concidadãos entendem que o Ocidente se está a pôr de cócoras perante o Islão ao condenar como excesso libertário a publicação dos ditos cartoons. Que não tem nada que pedir desculpa, que os muçulmanos só têm é que engolir tudo o que lhes é posto à frente, porque são uns atrasados, retrógrados e fanáticos que não merecem qualquer consideração e muito menos uma condenação formal das caricaturas por parte do MNE e do Governo, opinião que, de resto, é partilhada por vários jornalistas.
Em adição a isto, numa sondagem on-line efectuada pelo mesmo jornal, mais de 90% dos participantes manifestou-se a favor de uma intervenção armada dos EUA no Irão, como forma de resolver a questão da capacidade nuclear deste último.
Importa aqui colocar algumas questões.
Se o caricaturado fosse Jesus Cristo ou o Papa em vez de Maomé, qual seria a reacção em Portugal? Seria igualzinha à dos muçulmanos, exceptuando talvez os ânimos exacerbados. E isto não por o país ser mais "civilizado", mas por, apesar de tudo, a sua população ter uma vida melhor em comparação com as dos países árabes (há que lembrar que em muitos destes países as populações não dispõem de saneamento básico, por exemplo). Não acreditam? Aqui vai um exemplo: lembram-se quando um caricaturista português teve a ideia de desenhar o Papa João Paulo II com um preservativo enfiado no nariz, para ilustrar a intransigência da Igreja ao proibir o uso de métodos contraceptivos? Estão igualmente recordados da reacção hostil que então se verificou?
Por outro lado, este apoio expresso a uma intervenção armada é, no mínimo, contraditório. É que parte das mesmas pessoas que, após a morte daquele soldado português no Afeganistão, exigiram o retormo imediato das nossas tropas estacionadas no estrangeiro. Estarão acaso à espera que sejam outros a efectuar as despesas em vidas humanas que tal operação, justificada ou não, acarreta? Ou será que uma guerra é boa quando é o vizinho a morrer e deixa de o ser quando a grande igualadora vira a sua atenção para nós? E depois do Irão, quem se seguirá? Talvez a Coreia do Norte ou a Palestina ou um outro qualquer e assim por diante, até que finalmente haja paz... a paz dos cemitérios.
A tolerância tem de ser mais que uma simples palavra. Tem de ser uma atitude, uma filosofia de vida. Porque se não respeitarmos os outros como poderemos exigir respeito da parte deles? A violência só gera mais violência. Como disse o Mahatma Gandhi: "Nesta política do olho por olho, acabaremos todos cegos."
Fiquei pasmo ao ler os comentários às notícias veiculadas por um certo matutino de que recebo a newsletter, o qual, não sendo exactamente um jornal de referência, é ainda assim um espelho do pensamento de boa parte da população portuguesa.
Pois muitos dos nossos concidadãos entendem que o Ocidente se está a pôr de cócoras perante o Islão ao condenar como excesso libertário a publicação dos ditos cartoons. Que não tem nada que pedir desculpa, que os muçulmanos só têm é que engolir tudo o que lhes é posto à frente, porque são uns atrasados, retrógrados e fanáticos que não merecem qualquer consideração e muito menos uma condenação formal das caricaturas por parte do MNE e do Governo, opinião que, de resto, é partilhada por vários jornalistas.
Em adição a isto, numa sondagem on-line efectuada pelo mesmo jornal, mais de 90% dos participantes manifestou-se a favor de uma intervenção armada dos EUA no Irão, como forma de resolver a questão da capacidade nuclear deste último.
Importa aqui colocar algumas questões.
Se o caricaturado fosse Jesus Cristo ou o Papa em vez de Maomé, qual seria a reacção em Portugal? Seria igualzinha à dos muçulmanos, exceptuando talvez os ânimos exacerbados. E isto não por o país ser mais "civilizado", mas por, apesar de tudo, a sua população ter uma vida melhor em comparação com as dos países árabes (há que lembrar que em muitos destes países as populações não dispõem de saneamento básico, por exemplo). Não acreditam? Aqui vai um exemplo: lembram-se quando um caricaturista português teve a ideia de desenhar o Papa João Paulo II com um preservativo enfiado no nariz, para ilustrar a intransigência da Igreja ao proibir o uso de métodos contraceptivos? Estão igualmente recordados da reacção hostil que então se verificou?
Por outro lado, este apoio expresso a uma intervenção armada é, no mínimo, contraditório. É que parte das mesmas pessoas que, após a morte daquele soldado português no Afeganistão, exigiram o retormo imediato das nossas tropas estacionadas no estrangeiro. Estarão acaso à espera que sejam outros a efectuar as despesas em vidas humanas que tal operação, justificada ou não, acarreta? Ou será que uma guerra é boa quando é o vizinho a morrer e deixa de o ser quando a grande igualadora vira a sua atenção para nós? E depois do Irão, quem se seguirá? Talvez a Coreia do Norte ou a Palestina ou um outro qualquer e assim por diante, até que finalmente haja paz... a paz dos cemitérios.
A tolerância tem de ser mais que uma simples palavra. Tem de ser uma atitude, uma filosofia de vida. Porque se não respeitarmos os outros como poderemos exigir respeito da parte deles? A violência só gera mais violência. Como disse o Mahatma Gandhi: "Nesta política do olho por olho, acabaremos todos cegos."
07 fevereiro, 2006
Teorias sobre Jesus
Os estudiosos têm debatido ao longo dos tempos a etnia exacta e a nacionalidade de Jesus. Recentemente, num encontro em Roma, houve um debate aceso sobre este tema. Eis algumas teorias:
Jesus era Mexicano
Pois o seu primeiro nome era Jesus; falava duas línguas; estava sempre a ser perseguido pelas autoridades.
Jesus era Negro
Pois chamava irmão a todos; gostava de Gospel; não conseguiu ter um julgamento justo.
Jesus era Judeu
Pois seguiu o negócio do pai; viveu em casa até ter 33 anos; estava certo de que a sua mãe era Virgem e esta tinha a certeza de que o filho era Deus.
Jesus era Italiano
Pois falava com as mãos; bebia vinho a todas as refeições; utilizava azeite.
Jesus era Californiano
Pois nunca cortava o cabelo; andava de sandálias; iniciou uma nova religião.
Jesus era Irlandês
Pois nunca casou; estava sempre a contar histórias; adorava pastos verdes.
Jesus era uma Mulher
Pois teve que alimentar uma multidão de um momento para o outro, quando não havia comida; tentava continuamente fazer passar a sua mensagem a um bando de homens que simplesmente não a entendiam; mesmo depois de morto, teve de voltar porque ainda havia trabalho a fazer.
Jesus era Mexicano
Pois o seu primeiro nome era Jesus; falava duas línguas; estava sempre a ser perseguido pelas autoridades.
Jesus era Negro
Pois chamava irmão a todos; gostava de Gospel; não conseguiu ter um julgamento justo.
Jesus era Judeu
Pois seguiu o negócio do pai; viveu em casa até ter 33 anos; estava certo de que a sua mãe era Virgem e esta tinha a certeza de que o filho era Deus.
Jesus era Italiano
Pois falava com as mãos; bebia vinho a todas as refeições; utilizava azeite.
Jesus era Californiano
Pois nunca cortava o cabelo; andava de sandálias; iniciou uma nova religião.
Jesus era Irlandês
Pois nunca casou; estava sempre a contar histórias; adorava pastos verdes.
Jesus era uma Mulher
Pois teve que alimentar uma multidão de um momento para o outro, quando não havia comida; tentava continuamente fazer passar a sua mensagem a um bando de homens que simplesmente não a entendiam; mesmo depois de morto, teve de voltar porque ainda havia trabalho a fazer.
12 janeiro, 2006
Padre povoador...
SENTENÇA PROFERIDA EM 1487 NO PROCESSO CONTRA O PRIOR DE TRANCOSO
(Autos arquivados na Torre do Tombo, armário 5.0, maço 7)
«Padre Francisco da Costa, prior de Trancoso, de idade de sessenta e dois anos, será degredado de suas ordens e arrastado pelas ruas públicas nos rabos dos cavalos, esquartejado o seu corpo e postos os quartos, cabeça e mãos em diferentes distritos, pelo crime que foi arguido e que ele mesmo não contrariou, sendo acusado de ter dormido com vinte e nove afilhadas e tendo delas noventa e sete filhas e trinta e sete filhos; de cinco irmãs teve dezoito filhas; de nove comadres trinta e oito filhos e dezoito filhas; de sete amas teve vinte e nove filhos e cinco filhas; de duas escravas teve vinte e um filhos e sete filhas; dormiu com uma tia, chamada Ana da Cunha, de quem teve três filhas, da própria mãe teve dois filhos.»
«Total: duzentos e noventa e nove, sendo duzentos e catorze do sexo feminino e oitenta e cinco do sexo masculino, tendo concebido em cinquenta e três mulheres.»
«El-Rei D. João II lhe perdoou a morte e o mandou pôr em liberdade aos dezassete dias do mês de Março de 1487, com o fundamento de ajudar a povoar aquela região da Beira Alta, tão despovoada ao tempo e guardar no Real Arquivo da Torre do Tombo esta sentença, devassa e mais papéis que formaram o processo.»
(Autos arquivados na Torre do Tombo, armário 5.0, maço 7)
«Padre Francisco da Costa, prior de Trancoso, de idade de sessenta e dois anos, será degredado de suas ordens e arrastado pelas ruas públicas nos rabos dos cavalos, esquartejado o seu corpo e postos os quartos, cabeça e mãos em diferentes distritos, pelo crime que foi arguido e que ele mesmo não contrariou, sendo acusado de ter dormido com vinte e nove afilhadas e tendo delas noventa e sete filhas e trinta e sete filhos; de cinco irmãs teve dezoito filhas; de nove comadres trinta e oito filhos e dezoito filhas; de sete amas teve vinte e nove filhos e cinco filhas; de duas escravas teve vinte e um filhos e sete filhas; dormiu com uma tia, chamada Ana da Cunha, de quem teve três filhas, da própria mãe teve dois filhos.»
«Total: duzentos e noventa e nove, sendo duzentos e catorze do sexo feminino e oitenta e cinco do sexo masculino, tendo concebido em cinquenta e três mulheres.»
«El-Rei D. João II lhe perdoou a morte e o mandou pôr em liberdade aos dezassete dias do mês de Março de 1487, com o fundamento de ajudar a povoar aquela região da Beira Alta, tão despovoada ao tempo e guardar no Real Arquivo da Torre do Tombo esta sentença, devassa e mais papéis que formaram o processo.»
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